
Elvo Benito Damo foi dessas figuras humanas e artísticas raras com que me defrontei na vida. Eu o conheci logo que ele se mudou de Caçador, SC, para Curitiba, para onde veio cursar a Escola de Música e Belas Artes – onde depois se graduaria em Pintura e Escultura. Chegou nos anos 1970, e foi, estudante com a vida por fazer, morar numa pensão/república na Rua Desembargador Motta.
Elvo e eu frequentávamos amigos comuns ligados às artes plásticas.
Eu ensaiava, por aqueles dias, alguns lances de colecionador de obras de novos valores. Já tinha obras de alguns jovens, meus amigos, como Juarez Machado, João Osorio, Calderari, Tereza Isabel De Bakker.
Com o suor de meu rosto resolvi investir o pouco que tinha comprando trabalhos de gente como Elvo. De Juarez e João Osorio, amigos muito próximos, ganhara quadros até com dedicatórias.
Comprei de Elvo umas quatro esculturas em ferro, peças hoje históricas.
Restam só duas – as outras acabei dando como presentes de casamentos.
Uma das restantes é um bode que chama atenção em minha sala principal, e ilustra uma das páginas do perfil de Elvo que está no volume 8 do meu livro Vozes do Paraná (“Um Michelangelo entre Nós”).
A MELHOR COMPRA
Mas a melhor compra que fiz foi a do trabalho que mais me chamou a atenção dentre os concebidos por Elvo: um trítico, homem alado, todo em folhas bronzeadas. Retratava um Ícaro, na sua viagem fantástica, e destinava-se a ser afixado na parede de um grande espaço.
No começo dos 1990, mudando – parte de meu acervo, tive de levar a obra de arte para um espaço maior, numa chácara em Piraquara, onde pretendia que o “Homem Alado” tomasse toda uma parede, com suas dimensões de 3 X 2 metros.
Antes que a instalação do painel se consumasse, uma ‘zelosa’ empregada doméstica encarregou-se de dar sua “contribuição” ao trabalho artístico preciosíssimo: a moça achou que uma das partes do tríptico, que se achava guardado num quarto escuro, a espera de ocupar nova parede, poderia servir como boa lenha para uma manhã fria de Piraquara.
E não teve dificuldades de, a machadadas, desmembrar o tríptico. A parte desmembrada foi para alimentar o fogo da lareira.
O que sobrou, mesmo aleijado, está lá, no lugar que destinei à peça desde a intervenção inesperada da lareira.
(PROSSEGUE)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (1ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (2ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (3ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (4ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (5ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (6ª parte)