
O LEILÃO DA APR
Tenho recebido informações variadas, vindas de leitores que recordam lances preciosos da história das artes plásticas do Paraná no século 20, e assim ajudam a ampliar meu depoimento sobre esse tema.
Essas memórias envolvem – é preciso que se registre – boa parte de uma elite pensante (e social também) da Curitiba dos anos 1960 a 1990. E por que não dizer, também de uma elite política?
Na quinta-feira, 24, por exemplo, fontes da APR (a Associação Paranaense de Reabilitação), lembravam à coluna que a instituição foi beneficiária de um leilão de obras de artes “nunca mais repetido em suas dimensões” em Curitiba, como aquele realizado em 1972 no Graciosa Country Club.
Os resultados financeiros do leilão levaram a APR a sair do sufoco em que se encontrava, pois tinha dívidas trabalhistas enormes. Conseguiu até comprar, em seguida, um terreno ao lado de sua sede localizada então na Avenida Iguaçu, além de colocar as contas em dia.
E fazer um “cash flow” essencial para seus próximos meses.
EDUARDO GUIMARÃES
Para se ter ideia do evento, o organizador-idealizador do leilão, o arquiteto Eduardo Lopes Guimarães, conseguiu envolver doações de pelo menos 100 obras de arte de primeiríssima qualidade; algumas de autores paranaenses do nível de Poty, Zimmermann, Juarez; outras, doadas por gente da terra também, eram amplamente significativas pela expressão nacional dos artistas.
Quem batia o martelo no espaço glamoroso do Graciosa era Eduardo (e às vezes, Leopoldino de Abreu, que era o vice de Eduardo na APR). E lá vinham as surpresas, com obras que eram surpreendentes, assinadas, por exemplo, por Manabu Mabe e Rebolo….
OS EQUÍVOCOS
Eduardo Lopes Guimarães sempre se mostrou habilidoso como organizador, por sua capacidade aglutinar pessoas. Essa qualidade é inegável dele, persistindo até hoje.
O que então se provou sobejamente no leilão.
Os resultados financeiros finais foram uma autêntica benção para a APR, hoje atuando em toda uma quadra, com instalações modernas, na Avenida Paraná, em Curitiba, e servindo a milhares de portadores de deficiências físicas, com serviços médicos, fisioterápicos e de entrega de orteses e próteses.
Para fazer um “cash flow”, garantia de uma sequência de entradas financeiras, Eduardo leiloava as obras em 10 prestações mensais. Quem não estava familiarizado com esse tipo de operação, até incorria em equívocos: quando pensava estar comprando – como exemplo – um Mabe por 500 cruzeiros, até demorava a entender que essa era apenas uma prestação mensal.
Afinal, gente como Mabe e Poty nunca custou “preço de banana”.
Esses equívocos logo se esclareceram facilmente diante da magnitude de um projeto social que envolveu o físico e a criatividade de artistas, como Domício Pedroso.
Domício criou uma escultura eloquente, moderna, “a criança com a bola”, numa alusão ao próprio espírito das campanhas da instituição APR.
Quem ficou com a escultura de Domício, não se sabe. O que se sabe é que a peça é um dos símbolos persistente de como artistas paranaenses podem ser generosos quando diante de desafios humanitários.
(PROSSEGUE)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (1ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (2ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (3ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (4ª parte)
Artes plásticas do Paraná no século 20 (5ª parte)