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Artes plásticas do PR no século 20

(primeira parte)

Ennio Marques Ferreira
Ennio Marques Ferreira

Há bom mercado para artes plásticas em Curitiba?

Tal pergunta ouço com frequência, e vem de amigos, alguns mais recentes, outros, antigos. Eles sabem de minhas antigas ligações com esse universo das artes visuais no Paraná.

Na verdade, a ele fui introduzido no começo dos anos 1960 – 1964 -, pelo maior conhecedor de história das artes e do mundo das artes plásticas que já atuou na vida pública do Estado, Ennio Marques Ferreira, 90, hoje vivendo totalmente retirado, em sua casa no Jardim Social.

Incentivado pelo velho amigo Ennio, eu então com 24 anos comecei a escrever no extinto Diário do Paraná, da cadeia Associada (de Assis Chateaubriand) uma coluna no Caderno cultural daquele jornal, denominada “Vernissage”.

Do caderno eu também fui mais tarde editor, quando, anos depois tive a “graça” (já no final dos 1960) de abrigar um bando de “malucos”, gente execrada pelo estabelecimento daqueles dias, e que começou a colaborar no suplemento. O líder do grupo, contestador de tudo e com propostas renovadoras em literatura, era Paulo Leminski, hoje um nome definitivo da literatura brasileira.

Nas páginas daquele DP Domingo os jovens da contracultura lançariam o Manifesto do Grupo Áporo, de que é uma boa testemunha, o amigo jornalista Toninho Martins Vaz, autor da melhor biografia já escrita de Leminski.

DOIS MARCOS

Adalice Araujo e Loio Pérsio
Adalice Araujo e Loio Pérsio

Leminski à parte, retorno às artes plásticas.

Acredito que duas pessoas – deixando de lado minhas digressões sobre o caderno DP-Domingo – tiveram capital papel na formação do chamado mercado das artes visuais do Paraná.

Um, inegavelmente foi Ennio Marques Ferreira. Agrônomo de formação, com passagem pela Secretaria da Agricultura do Estado, no final dos 1950 ele criou com Manoel Furtado e o pintor Loio Pérsio a galeria Cocaco, na Rua Ébano Pereira. Acho que foi o primeiro ponto maduro de comercialização de obras de artes. Mais que isso, e até dado pela formação não mercantilista de Ennio e seus companheiros, a Cocaco, naquela primeira fase, foi basicamente o mais importante centro aglutinador de artistas plásticos da cidade de Curitiba. Lá se discutia arte e se combinavam exposições, encontros, tertúlias, assim como se dissecava a vida da Escola de Belas Artes…

A outra figura notável para a formação do mercado de artes plásticas do Paraná no século 20 foi a crítica de arte e professora Adalice Araujo, autora do Dicionário de Artes Plásticas do Paraná, que por anos atuou, primeiro no Diário do Paraná, depois, na Gazeta do Povo.

Ennio e seus dois companheiros de Cocaco, sabendo que não tinham tino comercial para tocar o empreendimento, passaram a Cocaco para Eugênia Petry e seu marido Demétrio. A parte de molduras era comandada pelo ‘seu’ Pedro, o pai de Eugênia, os 3 formando uma sólida família de origem ucraniana, gente com espírito de comerciante. Eugênia tinha formação na Escola de Música e Belas Artes.

(PROSSEGUE)

Leia mais: Artes plásticas do Paraná no século 20 (segunda parte)

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