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Artes plásticas do Paraná no século 20

 (Segunda parte)

Frans Krajcberg
Frans Krajcberg

Interrompi dia 16 a primeira parte destas anotações, exercício de pura memória (sem consultar dados ou textos) citando papel da galeria Cocaco na formação do mercado de artes plásticas do Paraná; dela e de Ennio Marques Ferreira, este um verdadeiro ícone da área.

E também destacando papel da família Petry, especialmente Eugênia, que na galeria unia um bom tino para negócios e boas formação artística na área de artes visuais.

Ela vivia no seu mar, num universo da qual tinha muita intimidade e inúmeros amigos. Se ganhava dinheiro ali, nunca descobri, até porque meus olhos estavam grudados naquele mundo novo, em que desfilavam “gigantes”. Alguns, na verdade, promessas de se tornarem “gigantes”, como Juarez Machado.

OS MATULEVICIUS

Juarez Machado
Juarez Machado

Mas havia Sergio e Nelson Matulevicius, o primeiro escultor de alguma importância, e o outro, seu irmão, um fotógrafo de jornal muito experiente; Guido Viaro, jornalista de O Estado do Paraná, precioso e íntimo do grande Constantino Viaro, seu pai; o crítico de artes plásticas Aurélio Benitez, um dos tantos órfãos da Guerra do Chaco, no Paraguai, que o Governo do Paraná abrigou e deu-lhe condições para crescimento pessoal e profissional; a Regina Benitez, jornalista, depois contista premiada, mulher de Aurélio, era outra frequentadora do endereço.

JUAREZ E BRZEZINSKI

Guido Viaro
Guido Viaro

Alguns artistas deslancharam a partir da Cocaco, como Juarez e João Osorio Brzezinski, amigos inseparáveis; outros, como Waldemar Rosa, tiveram momentos de brilho e, depois sumiram; outros ainda, sempre foram nomes importantíssimos, que ainda terão obrigatoriamente de ser reconhecidos, ficaram lutando contra a correnteza: o chamado mercado nunca os aceitou verdadeiramente.

Mas têm enorme reconhecimento de quem sabe distinguir o bom da porcaria em pintura. Nesse caso, o nome mais emblemático – e frequentador da Cocaco – Mário Rubinski, com suas casas e paisagens urbanas.

Mario vivia e artes, tempo integral. Fazia o expediente de funcionário público, como bibliotecário na Seção de Belas Artes da Biblioteca Pública do Paraná, onde seu mundo se completava.

MARISTELA

Eduardo Rocha Virmond
Eduardo Rocha Virmond

Para todos nós, uma mocinha bonita, simpática – uns cinco anos mais moça que eu – Maristela Quarengui – era a vendedora atenta, plena de categoria e encantada com o ‘metier’ em que teria de ser uma consultora de artes, missão em que a introduziu Eugênia. Tinha categoria, talvez criada em colégio de freiras no interior, de onde veio.

A mocinha deslanchou (morava por perto, com uma irmã, em apartamento na Rua Cândido Leão), com o passar dos anos tornar-se-ia Maristela Requião de Mello e Silva, pelo casamento com o ex-governador Roberto Requião de Mello e Silva. Depois, todos sabem, embora formada em Jornalismo (chegamos a estudar na mesma classe na PUCPR, em 1965), dedicou-se muito as artes visuais. Foi competente ao dirigir o Museu Oscar Niemeyer, embora o MON tenha sido alvo de inúmeros petardos jogados por seu marido, Requião, quando Jaime Lerner fundou o monumental museu.

OLHOS PARA VER

Eu comecei a ter olhos para a Cocaco lá pelo ano de 1961/62, mais ou menos. Para mim, um jornalista iniciante num grande jornal, o Diário do Paraná, a descoberta daquele nicho foi fundamental para minha educação visual. Foi lá – e no edifício ao lado, a Biblioteca Pública do Paraná, de que era frequentador desde 1964, quando dirigi o jornalzinho mimeografado A Voz da Biblioteca – que conheci nomes para mim então monumentais.

Eram ‘deuses’ da cidade, como Eduardo Rocha Virmond, um expert em música e também em artes plásticas, que a Cocaco ia para tirar a temperatura daquele universo borbulhante de novos valores. E por onde tinham passado alguns nomes que dispensa apresentar, como Krajcberg, então trabalhando nas Industrias Klabin, em Monte Alegre.

Ennio, Fernando Velloso, Virmond, gente ligadíssima nesse mundo maravilhoso das artes visuais já sabia quem era e o que a vida reservaria a Krajcberg, o judeu polonês que aqui aportou fugindo dos horrores da Grande Guerra.

(PROSSEGUE)

Leia mais: Artes plásticas do Paraná no século 20 (primeira parte)

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