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Artes plásticas do Paraná no século 20

(quarta parte)

Juarez Machado (Foto: Villa Francioni)
Juarez Machado (Foto: Villa Francioni)

Estou fazendo meras anotações sobre parte do que vi, no século passado, do processo de formação do mercado de artes plásticas do Paraná. E tenho feito também – ao mesmo tempo – breves “insights” sobre nomes que foram importantes a partir daqueles dias (ou, em outros casos, apenas naqueles dias), no mesmo universo artístico no qual cedo me acheguei.

Com esses textos, não tenho a pretensão de fazer grande memorialismo.

Acho que apenas cumpro uma obrigação, ao transferir para o papel e as vias digitais momentos que vivi e anotei.

Na edição anterior, citei o nome de Sabine Samut, bibliotecária, egípcia, judia, mulher de meia idade, muito culta e que amava artes plásticas.

Ela e o monumental Paul Garfunkel, avô de Mônica Rischbieter, tinham uma forte ligação intelectual. O pintor “marcava ponto” diário, ao lado do balcão de Sabine. Falavam em português. E muito em francês…

Ela era na Biblioteca Pública do Paraná, ambiente essencial para as artes visuais no começo dos 1960, a primeira referência a que leitores recorriam para informar-se sobre leituras. E, quando queriam artes plásticas, encaminhava-os a Mário Rubinski, uma das almas mais generosas que já conheci no que toca ao acolhimento das pessoas em busca de apoio.

E grande artista, todos sabemos.

A última notícia que tive dele, dava-me conta que Rubinski dedicava parte de seus dias, como fiel da Igreja Luterana, a apoiar doentes na Pastoral da Saúde, no Hospital Evangélico.

“Lá por 1963, fiz a primeira entrevista que Juarez Machado concedeu a um jornalista. Ele não era importante, começava a carreira como mero pintor de cenários de programas da TV Paraná, Canal 6, dirigida pelo “kaiser” Adherbal Stresser. E começou pintando cenários para o programa água com açúcar de um dos ícones da cidade de então, o muito controvertido Padre Emir Caluf”.

Mário Rubinski
Mário Rubinski

Ennio Marques Ferreira e o pintor Fernando Velloso, seu braço direito no Departamento de Cultura do Estado (equivalente à Secretaria de Cultura de hoje, mas então um órgão dependente da Secretaria de Estado da Educação) passavam num constante vai e vem na Biblioteca, organizando exposições.

As mostras oficiais do Estado, naqueles 1960, realizavam-se preferencialmente na BPP, onde tinham o apoio do chefe de gabinete do Diretor da BPP (professores Lamartine Correa de Oliveira, Luiz Gonzaga Paul, Osvaldo Piloto, em anos diferentes) o artista plástico Hugo Montanari Filho. Ele era exímio desenhista, técnica de nível, concentrado numa produção que fazia circular apenas entre amigos, toda ela voltada aos peixes. Assim como também na BPP havia outros seres que se dividiam entre os livros e os quadros, como a bibliotecária Déa Reichmann.

PROXIMIDADE

A proximidade da BPP e da Galeria Cocaco (Travessa Ébano Pereira) facilitava a presença constante na Biblioteca de artistas como os inseparáveis João Ozório Brzezinski e Juarez Machado; Helena Wong; Violeta Franco de Alencar (que, na época, ainda estava casada com  Loio Pérsio), Fernando Calderari, com suas talhas de temas marinhos, ele sempre com a fisionomia enfarruscada; Nilo Previde; o mestre Osvaldo Lopes, da Belas Artes; às vezes, Theodoro De Bona. E muitas vezes vi em longas consultas com Rubinski o professor Newton da Silva Carneiro, que fora secretário de Estado da Educação, o paranaense que, possivelmente, teve a maior pinacoteca de autores clássicos do Estado.

Newton era irmão de David Carneiro, e tio de Fernando Augusto Lacerda Carneiro (não se dava nem com o irmão nem com o sobrinho), que igualmente se abasteciam de conhecimentos de Rubinski e do expressivo acervo da Seção de Belas Artes.

O Salão Paranaense de Belas Artes e Salão de Artes dos Novos, comandados por Ennio, foram, por vezes, na BPP. Não havia outro espaço oficial disponível, com as condições da Biblioteca. Isso embora o extinto Clube Concórdia, reunindo uma elite pensante da etnia germânica de Curitiba, já realizasse mostras que ficariam na história das artes plásticas do Paraná, com o Salão da Primavera.

Lá por 1963, fiz a primeira entrevista que Juarez Machado concedeu a um jornalista. Ele não era importante, começava a carreira como mero pintor de cenários de programas da TV Paraná, Canal 6, dirigida pelo “kaiser” Adherbal Stresser. E começou pintando cenários para o programa água com açúcar de um dos ícones da cidade de então, o muito controvertido Padre Emir Caluf.

“Um lugar ao sol”, o nome do programa do padre, foi o primeiro grande espaço em que Juarez exibiu suas artes.

(PROSSEGUE)

Leia mais:

Artes plásticas do Paraná no século 20 (primeira parte)

Artes plásticas do Paraná no século 20 (segunda parte)

Artes plásticas do Paraná no século 20 (terceira parte)

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