Começou domingo à noite, na Igreja Presbiteriana do Brasil do Boqueirão, a Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos. Trata-se de uma proposta nacional, que vem de anos, renovada anualmente, e com o patrocínio do CONIC (Conselho Nacional da Igrejas Cristãs) e Conselho Latino-americano das Igrejas (CLAI).
A ideia é boa. Mas, como o leitor verá mais adiante, a unidade dos cristãos é um sonho distante de materializar-se: as principais aglomerações de cristãos não são ecumênicas. Não querem saber de ecumenismo como entendido no senso comum, ou aproximar-se de outras denominações.
Para os padres Volnei Campos (pároco de Santo Antonio Maria Claret, Boqueirão) e Miguel Taboada (Xaveriano, espanhol, pároco da Igreja Bom Pastor, em Vista Alegre das Mercês), representantes católicos na Semana, a iniciativa é um grande mutirão “pela unidade dos que creem em Cristo”. Eles estão otimistas com a iniciativa.
O calendário
Ontem, segunda, houve celebração à noite na Igreja Ortodoxa Ucraniana, da Av. Cândido Hartmann; hoje, 3, o culto de unidade será às 20 horas, na Igreja Reformada (Rua Tabajaras, 1210, Vila Isabel); amanhã, na Igreja Episcopal Anglicana, Av. Sete de Setembro, 3927; na quinta, 5, Igreja Evangélica da Confissão Luterana (Rua Estados Unidos, 1950, Boa Vista), às 20 horas; encerramento na sexta-feira, 6, 20 horas, na Igreja de Cristo Rei (católica), rua padre Germano Mayer, 410.
Boa ideia, poucas adesões
A proposta de unidade dos cristãos deve ter começado a se fortalecer com o encontro do Papa Paulo VI e o patriarca ortodoxo Atenágoras, em Jerusalém, anos 70s. Antes, experiências diversas, como a com a Comunidade Ecumênica de Taizé, França, com monges protestantes e católicos vivendo juntos, foram alguns exemplos de aproximação.
Mas foi o encontro com Atenágoras, histórico, que gerou, daí em diante, uma aproximação nunca dantes conseguida entre lideranças ortodoxas e católicas. E que se vai ampliando.
Pentecostais refratários
No entanto, no âmbito da unidade entre protestantes e católicos, a realidade é bem outra. Especialmente porque a grande massa de crentes protestantes (evangélicos) filia-se a igrejas e movimentos de linhas não ecumênicas (como se entende a palavra), caso dos batistas e as igrejas pentecostais, tais como as Assembleias de Deus, e todas as ramificações evangélicas assentadas sob as marcas do pentecostalismo.
E essas igrejas, muitas deles micro igrejas, envolvem hoje, estima-se, uns 300 milhões de crentes mundo afora.
Por que deixam o Anglicanismo?
Ao mesmo tempo, os estudiosos do ecumenismo não deixam de anotar, como “contraditório” o que está acontecendo entre segmentos conservadores da Igreja Anglicana, “atraídos pela Igreja Católica”.
O que acontece é o seguinte: nos últimos 10 anos acentuou-se a saída de pastores e bispos anglicanos da Inglaterra e outros países onde atua a Comunhão Anglicana (77 milhões de membros). Eles pediram e conseguiram admissão à Igreja Católica Romana. A maioria deles tornou-se católica por não aceitar sacerdócio de mulheres, ordenação de bispas, e admissão de homossexuais ao pastorado.
Os bispos anglicanos, nesse caso, perdem a condição de bispos, podendo, no entanto, ser ordenados padres, assim como os pastores que se fazem católicos.
Esses anglicanos aceitos por Roma foram admitidos por Bento XVI em 2009 pela Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus (neste ano de 2014, a Santa Sé publicou documento com normas complementares à Constituição Apostólica citada).
A conversão de Blair
Uma das conversões ao catolicismo mais comentadas deu-se em 2007, quando o ex-premiê Tony Blair, aceitou a Igreja Católica.
Antes da Constituição Anglicanorum Coetibus, a Santa Sé já havia estabelecido em 1980, por outra decisão, o direito de anglicanos episcopais dos Estados Unidos serem admitidos na Igreja Romana. Os padres anglicanos, depois de ordenados presbíteros católicos, puderam manter seus casamentos, com esposas e filhos.
Complementando, cito informações de jornal The Christian Church, do Texas: “As paróquias católicas de uso Anglicano já existiam desde o início de 1980, em conformidade com a Provisão Pastoral emitida pelo Papa João Paulo II, a pedido da Conferência episcopal dos Estados Unidos da América.
Esta provisão permitia a criação de paróquias que celebram a liturgia segundo a tradição anglicana e que eram servidas por clérigos casados.
Estes sacerdotes eram antigos padres anglicanos que, ao converterem-se ao catolicismo, foram ordenados na Igreja Católica. Mas, ao contrário dos ordinariatos pessoais, os católicos de Uso Anglicano são sujeitos ao governo dos Bispos católicos locais.”