O premonitório “1984” de George Orwell demorou trinta e três anos, mas finalmente chegou. Agora mesmo, um drone – aquele aviãozinho pilotado por controle remoto – pode estar sobrevoando uma casa atrás de um “puxadinho” ou de um quarto extra que o curitibano resolveu construir sem avisar a prefeitura. É aí que mora o perigo.
Com os recursos em baixa e as despesas em alta, o prefeito Rafael Valdomiro Greca de Macedo encontrou um meio de fazer aumentar a arrecadação com o IPTU, o Imposto Predial e Territorial Urbano – joia da coroa em tempos de inanição financeira: vai contratar empresas de drone para filmar imóveis que porventura tenham sofrido alterações significativas sem prestar contas ao erário.
NÃO É NOVIDADE
Diga-se: não é propriamente uma novidade. Em 2005, a prefeitura já se utilizava de serviços de satélite para flagrar possíveis construções clandestinas, como aquela casinha para a filha casamenteira.
A imagem captada, no entanto, era tema de discussão legal, porque, afinal, não captava a possível transgressão imobiliária acima de qualquer dúvida razoável. Ainda assim, a arrecadação do município com o imposto, já em 2010 (sob a administração de Luciano Ducci), aumentou em 40%.
FINANCIADOS PELO BNDES
É de se supor que o prefeito esteja de olho nessa possibilidade. Os drones que vão sobrevoar Curitiba (em número não estimado) serão financiados pelos BNDES – justamente o banco público enrolado em empréstimos beneméritos à JBS e às demais campeãs nacionais que o governo petista criou como um maná da indústria (com maná adubando dá).
Há mais por vir. Em audiência de prestação de contas na Câmara Municipal, o secretário municipal de Finanças, Vitor Puppi, anunciou um pacote de novas medidas de ajuste do INSS. “Não é uma majoração de imposto, quero deixar claro desde já”, afirmou.
NÃO EXISTE MÁGICA
A perspectiva é bem o contrário. Com a baixa arrecadação e a tímida redução de gastos com pessoal, o caminho da prefeitura é sempre buscar aumentar o ISS e o IPTU, seus principais tributos.
Não há fórmula mágica. No início do ano, esperava-se que o prefeito fizesse a lição de casa, tal como anunciou durante a campanha. Não é preciso ser bidu para concluir que tudo não passava de um discurso sob encomenda para ganhar uma eleição difícil.
Sim, o prefeito pode estar agora vendendo uma “solução mágica” para a população, enquanto embeleza a cidade com estátuas, símbolos místicos e “surpresas” arquitetônicas.
Rafael Waldomiro Greca de Macedo pode acreditar em duendes. Ao curitibano cabe acreditar em drones.
