Por André Nunes – As eleições municipais 2024 são as primeiras das últimas décadas (sem exagero) sem a cobertura de alguns dos mais destacados e reconhecidos colunistas políticos e jornalistas profissionais que atuaram historicamente em Curitiba e no Paraná. Falo aqui do Professor Aroldo Murá, mas também de Fabio Campana, Nego Pessoa e, mais recentemente, Luiz Geraldo Mazza e Luiz Carlos Martins.
Uma geração de ouro da comunicação que está entrando para a história e fazendo falta. Em especial, por suas análises que iam além do trivial que infelizmente passamos a nos acostumar a ler e ouvir, vindos de comentaristas menos aptos, ou “repetidores” de frases feitas…
Este Mural do Paraná, além de continuar o trabalho iniciado pelo Blog Aroldo Murá, também é repositório dos muitos anos de produção diária do Professor. Um dos temas mais caros, de muito estudo e reflexão, eram as religiões e as ligações entre Ciência e Fé, dentro da antropologia religiosa: as relações entre os povos e gentes e suas fés, suas influências na hora do voto, nos costumes e mudanças sociais.
Dito tudo isso, após o resultado do primeiro turno no último domingo (6), certamente o Professor Aroldo se debruçaria sobre a análise dos eleitos para a Câmara Municipal, de Curitiba e outras grandes cidades, e se faria a seguinte pergunta:
Como anda o “voto evangélico”?

A última década vem reforçando, pleito após pleito, a relevância do chamado “voto evangélico” como força decisiva no cenário político brasileiro. Afinal, dados do IBGE relevam que a população evangélica passou de 26,2% em 2010 para cerca de 31% em 2022. Mas como os evangélicos têm influenciado os rumos das eleições?
Em outubro de 2017, o Professor Aroldo Murá chamava atenção para uma pesquisa DataFolha: dos ouvidos, 8 em cada 10 garantiam que não se deixam influenciar por líderes, padres e pastores (embora, no segmento neopentecostal os seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, em percentual alto, 31%, garantiam seguir a orientação eclesiástica). Seguiu-se a esta postagem mais três partes sobre “Igrejas influenciam pouco na hora do voto“, que o leitor pode ler em nosso acervo.
Já na esteira da campanha presidencial de 2018, Aroldo Murá fez uma série de publicações sobre o tema, abordando a ascensão de lideranças conservadoras que se valiam dessa força eleitoral evangélica: além de Jair Bolsonaro, o ex-governador Wilson Witzel e o controverso ex-prefeito carioca, Marcelo Crivella.
O título da matéria fazia referência ao livro “Oração de Traficante: uma etnografia” (Rio de Janeiro: Garamond, 2015), da doutora em Sociologia, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Christina Vital Cunha, da pós-Graduação do Departamento de Antropologia. “O trabalho mais bem sustentado em pesquisa de campo sobre as igrejas evangélicas nos morros cariocas está resumido nesse essencial livro“, descreveu Aroldo.
Chegando a 2021, o Professor destacava em sua coluna:
Não há “a igreja evangélica” na manifestação de sete de setembro
Vale destacar o trecho a seguir, nas palavras do mestre:
“De qualquer forma não há como nos enganarmos: com o ‘fogo que vem do céu’, expresso no fenômeno de falar em línguas desconhecidas, curas físicas, e os milagres tão apregoados, além do chamado batismo do Espírito Santo, começaram a mudar o mapa das crenças no Brasil. Isto a partir de 1912, quando dois missionários suecos fundaram uma Assembléia de Deus, no Pará. E quando, em seguida, um ítalo-americano, Fracisconi, fundou a Congregação Cristã do Brasil, na cidade de Santo Antonio da Platina, PR. Essas práticas religiosas até poucos anos atrás atraiam apenas as populações da baixa renda. Hoje uma parte da classe média sente-se atraída por pregações como a do “boiadeiro” Valdemiro Santiago, tido como “grande operador de milagres” com sua Igreja Mundial do Poder de Deus.”
Eleições 2024

Voltando ao foco das eleições deste ano, Anna Virginia Balloussier da Folha fez uma interessante análise (Do ‘Tigrinho gospel’ à rixa Marçal-Nunes: como foi a disputa pelo voto evangélico em SP) sobre as disputas e apoios de lideranças evangélicas na eleição em São Paulo que, entre baixarias e cadeiradas, foi de longe a que mais repercutiu em todo o país. Indico a leitura aqui.
Em Curitiba, não podemos deixar de mencionar o segundo vereador mais votado deste ano, o jovem de 22 anos Guilherme Kilter (Novo). Seus impressionantes 16.664 votos se devem em boa parte ao apoio do ex-procurador Deltan Dallagnol, que abraçou sua candidatura pela cidade, e também à força da Primeira Igreja Batista de Curitiba (PIB) – onde Kilter atua há mais de sete anos, como líder de jovens e universitários
Presidente da Juventude do Partido Novo no Paraná e líder do RenovaBR (escola de formação política), o novo vereador contou ainda com apoio do deputado federal Nikolas Ferreira (MG), chamariz para o eleitor conservador nas redes sociais.