quarta-feira, 14 maio, 2025
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Opinião de Valor: O meu primeiro ano como papa

Pope Francis I appears on the central balcony

Entrevista com o Papa Francisco

Um ano se passou desde aquele simples “boa noite” que comoveu o mundo. O arco de 12 meses, assim entendidos – não só para a vida da Igreja – custa para conter a grande quantidade de novidades e os muitos sinais profundos da inovação pastoral de Francisco. Estamos em uma salinha de Santa Marta.

Uma única janela dá para um pequeno pátio interno que descerra um minúsculo canto de céu azul. O dia está belíssimo, primaveril, quente. O papa sai de repente, quase de súbito, de uma porta, e tem um rosto relaxado, sorridente. Olha divertido para os muitos gravadores que a ansiedade senil de um jornalista colocou sobre uma mesa. “Funcionam? Sim? Bom”.

A reportagem é de Ferruccio De Bortoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 05-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

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O balanço de um ano?

Não, os balanços não lhe agradam. “Eu os faço apenas a cada 15 dias, com o meu confessor.”

Corriere: O senhor, Santo Padre, de vez em quando, telefona para quem lhe pede ajuda. E às vezes não acreditam no senhor.

Papa Francisco: Sim, isso aconteceu. Quando alguém telefona, é porque tem vontade de falar, uma pergunta a fazer, um conselho a pedir. Como padre em Buenos Aires, era mais simples. E para mim continua sendo um hábito. Um serviço.

Eu sinto isso dentro de mim. Certamente, agora não é tão fácil fazer isso, dada a quantidade de pessoas que me escrevem.

Corriere: E há um contato, um encontro que recorda com afeto particular?

Papa Francisco: Uma senhora viúva, de 80 anos, que havia perdido o filho. Ela me escreveu.

E agora eu lhe dou uma telefonadinha a cada mês. Ela está feliz. Eu sou padre. Eu gosto.

Corriere: As relações com o seu antecessor. Nunca pediu algum conselho a Bento XVI?

Papa Francisco: Sim. O Papa Emérito não é uma estátua em um museu. É uma instituição. Não estávamos acostumados. Sessenta ou setenta anos, o bispo emérito não existia. Veio depois do Concílio. Hoje, é uma instituição. A mesma coisa deve acontecer para o Papa Emérito. Bento XVI é o primeiro, e talvez haverá outros. Não sabemos. Ele é discreto, humilde, não quer perturbar.

Falamos a respeito e decidimos juntos que seria melhor que ele visse pessoas, saísse e participasse da vida da Igreja. Uma vez, ele veio aqui para a bênção da estátua de São Miguel Arcanjo, depois ao almoço em Santa Marta, e, depois do Natal, eu lhe dirigi o convite de participar do Consistório, e ele aceitou. A sua sabedoria é um dom de Deus. Alguns gostariam que ele se retirasse para uma abadia beneditina longe do Vaticano. Eu pensei nos avós que, com a sua sabedoria, os seus conselhos, dão força à família e não merecem acabar em uma casa de repouso.

Corriere: O seu modo de governar a Igreja pareceu-nos isto: o senhor ouve todos e decide sozinho. Um pouco como o geral dos jesuítas. O papa é um homem sozinho?

Papa Francisco: Sim e não. Eu entendo o que você quer me dizer. O papa não está sozinho no seu trabalho, porque está acompanhado e é aconselhado por muitos. E seria um homem sozinho se decidisse sem ouvir ou fingindo ouvir. Mas há um momento, quando se trata de decidir, de colocar uma assinatura, em que está sozinho apenas com o seu senso de responsabilidade.

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