domingo, 22 junho, 2025
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Daqui Ninguém Sai: Dalton e a Curitiba como ela é

Por André Nunes – É chover no molhado apresentar as credenciais de Dalton Trevisan, o famoso contista, um dos maiores da nossa língua, Vampiro de Curitiba que nos deixou em dezembro do ano passado, às vésperas de completar 100 anos. A data acontece no próximo 14 de junho, que coincide com a temporada de Daqui Ninguém Sai.

Fotos: Lina Sumizono

Lina Sumizono – que fez os registros desta crítica, bem como dos bastidores, ensaio e camarim – e eu fomos conferir a primeira sessão desse retorno, na sexta-feira 23 de maio. A expectativa era grande, afinal a montagem dirigida pela icônica Nena Inoue estreou no Festival de Curitiba com duas sessões lotadas.

Foto: Lina Sumizono

Antes de partir para a resenha, o serviço: as apresentações de Daqui Ninguém Sai acontecem entre 23 de maio e 15 de junho, às sextas-feiras e sábados, às 20h30, e domingos, às 18 horas. Os ingressos vão de R$ 10 a R$20.

O Dalton que (pouco) conheço

Foto: Lina Sumizono

Vim morar em Curitiba pela primeira vez em 2006, cursava o primeiro ano do ensino médio. Após um rápido retorno para minha São José dos Campos da infância (onde concluí o segundo grau), me estabeleci em definitivo na Terra de Guairacá desde 2009. Lá se vai metade da minha vida.

Digo isso para contextualizar que, em 2006, foi quando conheci a obra de Dalton Trevisan, nas aulas de literatura. Não cheguei a ler nenhuma delas (falha minha), mas me lembro de alguns aspectos marcantes de seus contos: a Curitiba nua e fria, os tipos humanos característicos, um universo realista, até marginalizado, totalmente fora da visão ufanista da capital que muitas vezes se vê (e propaga) por aí.

Foto: Lina Sumizono

Nesse sentido, apesar de simplista, pra mim sempre foi nítida uma semelhança entre a obra do Vampiro e a de Nelson Rodrigues, tão lembrado por seus romances e crônicas que retratam “A vida como ela é”.

Antologia teatral

Daqui Ninguém Sai, enquanto proposta de antologia teatral da obra de contos e cartas do Vampiro de Curitiba, faz um enorme serviço a quem desconhece seus escritos. Igualmente a quem é seu leitor e fã. Impossível sair incólume do teatro ao presenciar cenas musicais e diálogos cortantes, da tragédia de Maria Bueno até Sulamita, incrivelmente vivida por Laís Cristina – jovem revelação do teatro curitibano.

Foto: Lina Sumizono

Da mesma forma, Sidy Correa é um dos destaques dentre o elenco masculino, dando vida a tipos machistas de curitibanos de outrora, mas que infelizmente seguem atuais. A produção do Teatro de Comédia do Paraná (TCP) se completa com o brilho em cena dos atores Carol Mascarenhas, Fábyo Rolywer, Madu Forti, Paula Roque, Paulo Chierentini, Trava da Fronteira, Val Salles, Wenry Bueno e Zeca Sales.

Foto: Lina Sumizono

O espetáculo ainda conta com equipe técnica experiente, com iluminação de Beto Bruel, figurinos de Verônica Julian, cenografia de Carila Matzenbacher e trilha original de Grace Torres e Lilian Nakahodo, além de Babaya na preparação musical da peça. Aliás, o aspecto musical é outro atrativo à parte, que embala as cenas. O brado “Ninguém é dono de Maria!” fica na cabeça do público após o fim do espetáculo.

Foto: Lina Sumizono

Como parte do panteão dos grandes escritores da humanidade, Dalton Trevisan mescla o provinciano com o universal, o dia a dia com o existencialismo, a marginália com o ufanismo paranaense. Ao falar de sua Curitiba, em que viveu por 99 anos e da qual escreveu por oito décadas, o Vampiro projeta sua obra para a posteridade tal como seus amigos de correspondência, Carlos Drummond de Andrade e Otto Lara Resende. Evoé, Dalton!

Foto: Lina Sumizono

Serviço: “Daqui Ninguém Sai”

  • Apresentações: 23 de maio a 15 de junho
  • Horário: às sextas-feiras e sábados, às 20h30, e domingos, às 18 horas
  • Local: Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha). A entrada do público será pela pela Rua Amintas de Barros. Pessoas com deficiência motora ou dificuldade de locomoção podem entrar pelo saguão do Guairinha.
  • Classificação: 16 anos
  • Ingressos à venda a partir de segunda, 19 de maio, por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), na bilheteria do Centro Cultural Teatro Guaíra e pelo site DiskIngressos
  • O espetáculo conta com intérprete de Libras
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