sexta-feira, 13 dezembro, 2024
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CAMPANA, TERESA, PADRELLA: ESCRITORES SOB O IMPACTO DA DITADURA

Há um assunto pouco estudado no Brasil: de que maneira os ficcionistas se apropriaram, literariamente, da ditadura militar? Cândido, o jornal da Biblioteca Pública do Paraná, traz em sua 32.ª edição, de março de 2014, um dossiê sobre o assunto.

Reportagem de Osny Tavares, ex-Gazeta do Povo, mostra, por exemplo, que os autores não absorveram, imediatamente, o impacto da ditadura. Foi a partir do lançamento de Quarup, de Antonio Callado, em 1967, a realidade passou a ser matéria-prima em nossa ficção.

Tavares também entrevistou Ferreira Gullar, o autor, entre outros, de Poema sujo, que conta de que maneira o golpe interferiu em sua vida, obrigando-o a se exilar na Argentina.

No entanto, o ponto alto do especial é a matéria Resistência nos pinheirais, assinada pela jornalista Thaís Reis Oliveira. Ela apresenta autores paranaenses, como Walmor Marcellino, Fábio Campana, Nelson Padrella e Teresa Urban, que também problematizaram os anos de chumbo em suas obras.

O EXEMPLO DE CAMPANA

Thaís destaca, especialmente, a produção de Campana (acima):

“O exemplo mais prolífico da presença da ditadura na ficção paranaense está nos livros de Fábio Campana. Embora seja mais conhecido como editor e jornalista, Campana tem uma extensa obra na qual as memórias da repressão são peças-chave na construção narrativa. A obra mais destacada de Campana é o romance O guardador de fantasmas (1996) que, segundo análise do escritor e professor de literatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Paulo Venturelli, “faz um mergulho no projeto revolucionário que não desfez o oco interior do personagem”.

Entre outros livros do autor, estão Restos mortais (1978), No campo do inimigo (1981), Paraíso em chamas (1994, reeditado em 2013) e Ai (2007).

A jovem jornalista conseguiu extrair um depoimento raro de Campana, a respeito do impacto da ditadura no autor, que foi preso e torturado.

COMPREENDER O SOFRIMENTO

Vale transcrever o fragmento da reportagem:

“Para Fábio Campana, a literatura não acaba com o sofrimento, ‘mas permite que você o expresse e consiga encará-lo, que passe e compreendê-lo melhor’. O envolvimento do autor com a política começou ainda na adolescência, em Foz do Iguaçu.

“Anos mais tarde, Campana esteve na luta armada e foi detido e torturado na Base Naval da Ilha das Flores. ‘Fiquei por muito anos sem conseguir falar sobre minha época de prisão’, conta.”

A edição traz ainda um conto inédito sobre o tema, ditadura, escrito por André Sant’Anna — a imagem de capa (topo) é de Foca Cruz.

O Cândido tem tiragem mensal de dez mil exemplares e é distribuído gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná e em diversos pontos de cultura de Curitiba. Também é enviado, via correio, a diversas partes do Brasil. É possível ler a versão online do jornal no seguinte endereço: www.candido.bpp.pr.gov.br. O site também traz conteúdo exclusivo, como entrevistas e inéditos.

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