A rotina do religioso Joaquim Parron que, inspirado em Betinho e Júlio Lancellotti, já distribuiu 56 mil cestas básicas nos últimos três anos
Felippe Aníbal / Revista Piauí
A garoa no comecinho da manhã de 26 de novembro – último sábado do mês – não espantou as dezenas de pessoas em frente à Capela Nossa Senhora Aparecida, na Vila das Torres, em Curitiba. Às 10 horas começaria a entrega de 150 cestas básicas a moradores da localidade, uma área de vulnerabilidade social onde predominam famílias que vivem da reciclagem. Uma senha recebida previamente de líderes comunitários garantia ao portador a entrega dos mantimentos. Quando viu a pequena aglomeração, o coordenador da ação, o padre Joaquim Parron Maria, fez sinal para que entrassem e, ao lado de seminaristas e voluntários, adiantou a distribuição dos alimentos. “A fome é uma necessidade urgente. Muitos já não tinham o que comer em casa, por isso vieram mais cedo. Quem tem fome, tem pressa”, disse o padre Parron, de 63 anos, repetindo o bordão com o qual o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou nos anos 1990 a Ação da Cidadania contra a Fome.
A ação na capital paranaense faz parte do projeto S.O.S Vila Torres, iniciado em março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil. Parron percebeu que o óbvio: os mais pobres sofreriam mais os efeitos da crise sanitária. Numa articulação com com líderes comunitários e voluntários, passou a arrecadar cestas básicas para distribuir às famílias mais necessitadas. A ideia inicial era de que o trabalho ficasse restrito à comunidade. Logo, no entanto, a iniciativa extrapolou os limites da Vila das Torres, passando a atender outras áreas periféricas de Curitiba, sobretudo ocupações em que vivem cerca de novecentas famílias em risco de despejo, como a Vila Marielle Franco.
Mesmo quando o ritmo de contágio do novo coronavírus começou a arrefecer, Parron se sentiu obrigado a estender o S.O.S Vila Torres. Se as consequências da pandemia já não eram tão severas, fenômenos como o aumento da inflação e o desemprego continuavam a atingir com mais força as famílias. Em dois anos e oito meses, o projeto já distribuiu mais de 56 mil cestas básicas. Em 2022, a média é 2 mil cestas doadas por mês. Dois galpões da capela servem de depósito aos pacotes de alimentos não perecíveis. “Isso aqui ficou parecendo um supermercado”, comparou o padre. Em outras ações, o projeto também distribuiu cobertores – nos períodos de frio – e marmitas.