Zilda Beltrão Fraletti nunca sofisticou nem superestimou seu trabalho, área que no Brasil ainda é vista como voltada a grupos privilegiados socialmente. Reconhece, no entanto, que ser galerista de arte – ou “marchande de tableaux”, como a profissão foi inicialmente identificada mundo a fora – não é tarefa “para qualquer um”.
O requisito básico, repete sempre, não é apenas o ter tino para negociar, comercializar, abrir e ampliar mercado de obras de arte.
– É preciso muito mais, o primeiro passo do candidato a galerista é que ele ou ela se ache dono(a) de vocação especial. E que tenha, de alguma forma, se sentido “chamado(a)” para esse mundo todo singular e particular. Isso sem excluir uma boa formação, particularmente em História da Arte.
Pois esse “ser chamado(a)”, da forma e com a entonação que essa mulher elegante expressa (ela é uma boa mistura de paranaenses de larga expressão histórica – os Beltrão – e o espírito pioneiro dos Fraletti, italianos que ajudaram no progresso de São Paulo) sempre exigirá maiores explicações.
2 – ARTE & PSIQUIATRIA
As palavras de Zilda Fraletti revelam também a psicóloga que nela existe, a partir da configuração que apresenta do potencial humano interessado por artes visuais. E isso tem uma explicação: começou estudando Psicologia em São Paulo e acabou se graduando na área na PUC-PR. Dentre seus colegas de curso, cita Bia Wouk e o jornalista Fábio Campana.
A psicóloga até atuou na área, tendo sido, por breves anos, responsável por seleção de recursos humanos na Sanepar.
Eu, é verdade, me arrisco a chegar às raízes da galerista Zilda. E elas estão no seu pai, um psiquiatra que por anos atuou no centro psiquiátrico do Juqueri, em São Paulo. Ao lado de um colega, ele promoveu a arte-terapia, com enormes bons resultados. O médico colocou as artes plásticas como parte essencial do processo de recuperação de homens e mulheres que enfrentavam distúrbios mentais.
Neste ponto, como para reforçar o conceito de a arte ser vital num processo terapêutico das vítimas de transtornos psiquiátricos, Zilda recorre também ao caso do fantástico Bispo de Rosário. Nisso, coloca seu duplo olhar de autoridade – o de galerista e o de psicóloga.
3 – A GALERIA
No Batel Design Center, um dos mais sofisticados espaços comerciais de Curitiba, ao lado do igualmente sofisticadíssimo shopping Pátio Batel, Zilda fez de sua galeria um ponto referencial das artes plásticas. Seu acervo é amplo – fotos, pinturas, gravuras, esculturas, vídeos, desenhos -, um mundo de surpresas colocado à disposição de quem lá entra para simplesmente conhecer o espaço, entrar em contato com peças expostas, para comprar ou – “o que também é muito importante”, diz Zilda – “simplesmente procura iniciar ou ampliar sua educação visual”.
Zilda não se atribui nenhum papel único na vida das artes visuais de Curitiba. Mas tem consciência – isto fica claro quando se conversa com ela – de que comandou momentos especiais na história das artes curitibanas. A começar pelo fato de sua hoje Galeria Zilda Fraletti (sucessora da Fraletti Rubbo) ser contada – com justa razão – como a mais antiga das galerias de arte contemporânea de Curitiba. São 32 anos de atividades incessantes.
Os 30 anos históricos da Galeria Zilda Fraletti, em 2014, foram celebrados com uma mostra de desenhos do insuperável Carlos Eduardo Zimmermann.
A importância de Zilda Fraletti na formação do público consumidor e conhecedor de artes plásticas está aqui apenas resumida. Até porque é tarefa impossível rememorar, nos detalhes, as grandes lutas que essa empreendedora desenvolveu para se impor.
No currículo de Zilda há outro pioneirismo, como foi a implantação do primeiro consórcio de artes plásticas em Curitiba, hoje mantido com outra denominação.
Planos? A galerista simplesmente assegura:
– Quero continuar contemporânea do futuro.
(parte do perfil de Zilda Fraletti que estará no volume 8 de meu livro Vozes do Paraná)