O número 64 da Revista da Academia Paranaense de Letras (APL), que começa a circular, apresenta diversos depoimentos sobre a vida e obra de Belmiro Valverde Jobim Castor. Alguns, muito sentido, como o discurso de René Dotti feito no sepultamento de Belmiro, à beira do túmulo, no Cemitério da Água Verde.
No final, depois de uma sentida análise do acadêmico de quem foi amigo, Dotti termina a fala citando Drummond: “Do lado esquerdo carrego meus mortos. Por isso caminho um pouco de banda”.
NO DIA DE CURITIBA
Dante Mendonça, olhar de jornalista atento, memorialista de Curitiba, escreveu “Quem Perdemos”, na Revista da APL, sobre a morte de Castor.
Começa dizendo que “o Senhor escolheu um dia muito especial para Belmiro Valverde Jobim Castor nos deixar. Na tarde de 29 de março, aniversário de Curitiba e de Poty Lazzarotto. Foi nessa data para que nós, mortais desmemoriados, tenhamos uma referência especial para não esquecê-lo. Como se fosse possível esquecer o professor Belmiro, tanta a falta que ele vai nos fazer.”
O PROTESTO DE VIRMOND
Eduardo Rocha Virmond, ex-presidente da Academia Paranaense de Letras, um dos notáveis paranaenses do Direito – sem esquecer o seu papel como crítico de música e de artes plásticas – assinou o texto “Memento Mori – Belmiro, Protesto!”
De saída, diz Virmond: Protesto! É impossível saber do falecimento de Belmiro Valverde Jobim Castor sem protestar. Protesta-se contra as forças que não se pode eliminar; ergamos nossa voz e nosso pensamento para lamentar a enorme falta que Belmiro está fazendo entre nós e entre todos.”
PARA CHLORIS, PERENIDADE
A presidente da APL, Chloris Casagrande Justen classifica, em seu texto, Belmiro como “um escritor de posições bem definidas, profundo estudioso das realidades do presente e do passado…”
AS RAÍZES ESSENCIAIS
Dos articulistas que abordam Belmiro Castor e sua obra, fui o único não membro da APL a escrever na revista.
Na verdade, acedi ao convite de Virmond e escrevi algumas páginas da publicação (número 64) certo de que iria passar, para as gerações futuras, um bom testemunho do o bom amigo e grande paranaense que perdemos.
Talvez por ter convivido por muitos anos, desde o começo dos 1960, com Belmiro e sua Elizabeth Bettega Castor, eu fui me tornando um bom informante sobre esse intelectual ímpar, o melhor analista do Paraná e suas possibilidades, suas realizações e seus inúmeros ‘gaps’.
AS RAÍZES (2)
Digo, por exemplo, que esse mineiro “por acaso” (pois só nasceu em Juiz de Fora) teve sua formação essencial no Rio. E lá, da infância à entrada na universidade, os grandes mestres de Belmiro foram seu avô (Belmiro Valverde) e os padres da Ordem dos Agostinianos, ao lado de quem foi aluno, do ginásio ao Clássico.
Os cônegos do Colégio Santa Mônica, do Leblon, deram a Belmiro meios para alimentar o catolicismo seguro que era tivera, por primeiro, ao lado dos avós.
Acho que fui feliz em mostrar ângulos da vida desse paranaense adotivo.
Um deles, mostrando-o como herdeiro de heranças culturais enormes, dentro da família: foi sobrinho do lendário presidente da ABI e depois senador carioca Danton Jobim, um paladino das franquias democráticas. E sobrinho também do embaixador José Jobim, tendo sido filho do general (e advogado) Carlos Castor.
AS RAÍZES (3)
Fixo, em minha abordagem, a influência que Belmiro recebeu de uma figura paradigmática da vida paranaense, general Alípio Aires de Carvalho. Com ele, atuando como seu assessor no Governo, anos 1960s, começo do governo Ney Braga, Belmiro aprendeu a esquadrinhar o Paraná. E nem poderia ser o contrário: afinal, o “professor de Deus” – apelido de Alípio – tinha o domínio absoluto do Paraná, suas riquezas, seus potenciais, suas falhas, sua gente.
Daqueles primeiros contatos com Alípio foi não apenas desabrochando, naqueles dias, o seu melhor sucessor. Com Belmiro, na verdade, foi nascendo uma nova forma, científica e mais moderna, de conhecer o Paraná e diagnosticá-lo por inteiro.
O Sistema Estadual de Planejamento – que depois nasceria com Ivo Simas Moreira e Belmiro – foi a primeira mostra que Castor deu de quanto iria contribuir, especialmente no Governo Canet, para a modernização do Paraná.