Agência DW – Diante da visita de Estado de Luiz Inácio Lula da Silva a Espanha e Portugal, onde desembarcou nesta sexta-feira (21), ecoa a questão: depois de ter ido aos Estados Unidos e China, por que o presidente brasileiro escolheu a Península Ibérica como destino de sua primeira viagem oficial à Europa neste terceiro mandato? Por que Lisboa e, a seguir, Madri, em vez de Berlim e Paris, capitais das duas maiores potências do continente, ou Bruxelas, sede da União Europeia (UE)?
Segundo o Planalto, a viagem a Portugal e Espanha “faz parte do relançamento das relações diplomáticas do Brasil com seus principais parceiros”, após o isolamento internacional do Brasil sob Jair Bolsonaro.
Entre outros compromissos em Portugal, país com o qual o Brasil tem laços históricos, Lula participará da Cimeira Brasil-Portugal, encontro que não ocorria desde 2016 e no qual devem ser assinados ao menos 13 acordos bilaterais em diversas áreas. O presidente permanecerá em solo português até a próxima terça-feira, quando será homenageado numa sessão solene na Assembleia da República Portuguesa durante as comemorações da Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura salazarista.
No mesmo dia, segue para a Espanha, que além de ser vizinha de Portugal, assumirá a presidência da UE no segundo semestre.
Ucrânia
Há quem especule se o governo brasileiro optou por não visitar Paris, Berlim ou Bruxelas por conta das recentes declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia, de que Estados Unidos e Europa estariam prolongando o conflito, rebatidas tanto pela Casa Branca quanto pela Comissão Europeia.
Para Demétrio Magnoli, sociólogo e conselheiro do Centro Brasileiro de Estudos Internacionais (Cebri), no entanto, a escolha tem a ver com a estratégia do novo governo de se concentrar no chamado Sul Global.
“Lula não acha que a Europa é importante. A política externa é definida pelo governo, como uma política externa baseada nas relações com o que eles definem como o Sul Global, cujo eixo seria o Brics, que eles entendem como um polo de poder alternativo e contraditório aos Estados Unidos. E, na visão deles, a Europa faz parte do polo de poder americano”, analisa.