domingo, 23 março, 2025
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Assim a crônica social se fez obrigatória na imprensa do Paraná (Parte I)

O fenômeno Dino Almeida, senhor absoluto dos leitores dos anos 1960/90, não se repetiu. No entanto, muitos quiseram, ao longo dos anos, conquistar glórias similares, como a esposa de um banqueiro do Bamerindus, dentre outros tantos.

 

A história do colunismo social, ou da reportagem da chamada alta sociedade brasileira, é rica em detalhes. Mas pouco registrada, até porque os historiógrafos sempre tiveram a atividade sob óptica do preconceito. A começar pela maneira como viram e acompanharam a carreira do primeiro cronista social do país, o carioca João do Rio.

João do Rio foi um desbravador em muitos sentidos: mulato, homossexual, impôs-se por seu talento de observador da vida e da sociedade carioca (em termos abrangentes) no começo do século 20. Foi cronista do Rio por excelência.

Meu primeiro contato com a obra João do Rio foi quando, no ensino médio, passei a olhar o fenômeno religioso do ponto de vista da antropologia cultural. Naqueles momentos, a leitura do “As religiões do Rio”, obra de João esquadrinhando o fenômeno do “religare”, foi-me preciosa.

ACADÊMICO DA ABL

O colunista social pioneiro, teatrólogo, repórter e depois diretor de jornal e tradutor, além de membro da Academia Brasileira de Letras, João do Rio (Paulo Barreto) viveu entre os 20 últimos anos do século 19 e 20 anos do século 20.

Já no Paraná um dos poucos jornalistas que de fato teve leitores que garantiam ampliar a circulação dos jornais em que trabalhou foi Dino José Bronze de Almeida.

Catarinense de Papanduva, SC, para Curitiba se mudou com o irmão Décio no final dos 1950. Foram morar no porão de uma casa senhorial, ele sendo pai e mãe do irmão que, na prática, Dino acabaria por criar.

Charmoso, um dândi, fazia escolhas acertadas de trajes e de amizades, desde a chegada à Capital paranaense. Um dos primeiros contatos de Dino, me relatou ele certa vez, foi com a histórica “deusa” da sociedade curitibana dona Mercedes Fontana, que ditava modas e agendas da sociedade paranaense a partir de sua mansão, na Avenida João Gualberto, defronte ao Colégio Estadual do Paraná. Nos anos 80, o espaço clássico deu lugar a um espigão.

 

ARTE DE FAZER AMIGOS

Dino teve o empurrão de dona Mercedes, apresentado que foi por amigos catarinenses da dama do Alto da Glória, ela o tendo como uma espécie de filho adotivo, a quem abriria portas.

Não demorou muito para que o mocinho catarinense, um relações públicas nato, alma de repórter de amenidades, passasse a estudar o ginásio e o secundário no Colégio Estadual do Paraná (CEP), um ateneu nota 10, e por onde passava também boa parte da elite de Curitiba (posição só dividida com o Colégio Santa Maria).

 

NO SESI, EMPREGO

Acredito que o francês Charles Barrault, então um dos homens mais poderosos do SESI/Federação das Indústrias, foi quem primeiro acolheu Dino em seu aprisco. E não esquecer que, ao mesmo tempo, João Lydio Bettega, presidindo a Federação das Indústrias, ampliou sua generosa capacidade de apoiar jovens em busca de espaço e de um lugar ao sol.

Dino teve as bênçãos de Bettega.

 

A TARDE, O COMEÇO

Protásio de Carvalho, que dirigia o vespertino A Tarde (Rua XV de Novembro), jornalista e administrador de jornal, não errou ao escolher DA para a chamada reportagem social.

Quando isso aconteceu, Dino Almeida já tinha sua turma, boa parte dela cultivada no Colégio Estadual do Paraná (CEP), gente como Emílio Zola Florenzano, que depois seria capital para o lançamento de DA num jornal de primeira qualidade, o Diário do Paraná, da cadeia Associada, e onde Dino se consolidaria na profissão com uma coluna diária, de terça a domingo. A primeira turma de parceiros de Dino nasceu ali no Estadual, incluindo, além de Emílio Florenzano, também José Carlos Gomes de Carvalho (Carvalhinho) e José Richa.

 

PONTAPÉ INICIAL

O vespertino A Tarde foi o pontapé inicial do moço que, como tantos outros aprendizes de cronistas sociais, se mirava muito nos cacoetes, expressões e comportamentos de Ibrahim Sued, o “Turco”, semi-alfabetizado, que dominava a área a partir de suas crônicas em O Globo.

Sued era um fenômeno do “mass media” jamais superado, com influências enormes na vida do país, tais os contatos e raízes que lançara a partir da então Capital do Brasil, o Rio, onde tudo acontecia.

 

RENOVAÇÃO COM STEINER

Mas foi no Diário do Paraná, um veículo renovador da imprensa paranaense (e por quê também não da brasileira?), do grupo jornalístico de Assis Chateaubriand, que Dino Almeida se consolidou.

Ali submeteu-se às rígidas regras de horário e normas técnicas trazidas pelo grupo paulistana do Diário de São Paulo, em que Benjamin Steiner, um judeu argentino, implantou o primeiro jornal diagramado no sul do país, o DP.

 

MAZZA, DOTTI, EDUARDO

Imagino os primeiros dias de experiência de Dino, convivendo com cobras-criadas como René Dotti (crônica diário de teatro), Eduardo Rocha Virmond (crítico de artes plásticas e de música clássica), Léo de Almeida Neves. Isso sem esquecer a forte presença do Luiz Geraldo Mazza, inquieto crítico do mundo e de tudo que nele se move!

 

REVISTA CLUBE

Em 1960, quando fui apresentado a Dino e fui trabalhar com ele na revista Clube, então dirigida por Nelson Faria, seu fiel assessor de sempre, por lá encontrei atuando, como colaboradores, gente de perfil sólido, como o citado Charles Barrault, René Dotti, Aurélio Benitez, Adel Amado Bark…

A revista Club, que durou uns dois anos, a partir de 1960, especializara-se no assunto em que Dino Almeida já era craque absoluto, o colunismo social. Apresentava “carnês” de festas de 15 anos, bailes de debutantes, notícias de clubes, perfis de homens empreendedores públicos e da iniciativa privada, além de listas das “dez mais”, as mulheres mais elegantes do Paraná. Tudo com a assinatura do DA.

Adel Bark, mocinho, terminando o antigo Artigo 99 (para conquistar o diploma de ensino médio) fazia o elo da publicação com as novas gerações, encenando com belas moças e altivos rapazes, cenas fotográficas que representavam momentos ao estilo “Chapeuzinho Vermelho”.

As fotos, me lembro bem, eram Kalk Brenner ou, por vezes do Carlos Motta, e algumas, do antológico Salomão Scliar em sua temporada curitibana.

 

ALÉM DOS CARNÊS

Claro que por iniciativa de alguém menos ligado aos chamados “carnês sociais”, como Nelson Faria, a Club foi abrindo espaço para outros voos.

Assim, Jack Zitronenblat, dono do Lord Magazine, um must daqueles dias em moda masculina, dava o tom de como o homem devia se vestir bem.

Outros voos alçados por Nelson incluíam poemas de Mazza, como o antológico “Pavana para um Guri Morto”, as análises críticas de artes plásticas por Benitez e, até eu, me arrisquei a alguns passos em torno de Literatura, escrevendo – lembro bem – sobre Saint John Person.

 

MARCAS DO DA

O empreendedorismo, o carisma, a capacidade de fazer amigos e promover pessoas foram as marcas maiores de Dino Almeida que, em meados dos 1960 (se não me engano), depois de um período no Rio, foi atraído para a Gazeta do Povo por Francisco da Cunha Pereira, o lord que comandava de um casarão neoclássico o jornal que De Plácido e Silva fundara, depois passando a ser o mais importante do Paraná.

A carreira do Dino atingiu seu ápice na Gazeta do Povo que, se já tinha repercussão na cidade, cresceu em importância e leitores com Dino Almeida, o menino de Papanduva que, muito mais do que cronista social, um ofício então com muito opositores, foi vital para a consolidação de atividades empresariais. No caso, recorro à autoridade de Luiz Fernando de Queiroz, especialista em direito imobiliário, empresário, editor de livros, que me garante: “Dino era a locomotiva que tocava Caiobá” – “a Divina”, como ele a chamava -, que nunca mais foi a mesma em brilho e desenvolvimento, a partir da morte do colunista”.

Queiroz, com a observação, lembrava que DA transformou Caiobá em lugar mágico a partir de suas festas, como “Garota de Caiobá”, o irrepetível ponto de encontro da grã-finagem paranaense de então e, também, de nomes do patriciado paranaense.

Em franco apoio às observações de Queiroz, recordo um texto que escrevi, há dezenas de anos, sob Dino Almeida:

“Em Curitiba, as pessoas, de certas camadas da sociedade, só nascem, casam ou morrem se tiverem seus nomes registrados por DA”.

(CONTINUARÁ)

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