Redação – Escrito pelo jornalista e advogado Marcus Gomes, “Condominus – Guia de Viagem para Habitantes do Mundo Vertical”, passa a ser publicado, em capítulos, a partir desta quarta-feira (18) no Mural do Paraná. O livro conjuga a história dos condomínios, vocábulo de origem latina que significa “domínio comum”, desde as edificações na antiga Roma, que tinham como característica a propriedade de vários donos, passando pela expansão das cidades, a verticalização urbana e a construção de bulevares condominiais integrados ao ecossistema.
A ideia de fazer do livro um guia de viagem, segundo o autor, foi a solução encontrada para escapar da tradição dos manuais condominiais disponíveis nas livrarias e abranger, além de informações pontuais, como regras de convivência e legislação, o admirável mundo novo que cerca as comunidades residenciais e comerciais desde a fundação de suas primeiras bases. “As curiosidades históricas ou informações adicionais poderiam figurar nas notas de rodapé, mas achei melhor trazê-las para o texto principal, com fotos e ilustrações às margens das páginas ou destacadas graficamente entre um e outro parágrafo”, afirma Gomes.
Números recentes mostram que há 450 mil condomínios no Brasil, onde vivem cerca de 65 milhões de habitantes – quase um terço da população do país. De acordo com o autor, os prédios residenciais estão assumindo características que apontam para um caminho irrefreável que irá conjugar ocupação do solo e preservação ambiental. “Daí a inevitabilidade da verticalização”, assinala. “Em países pequenos e de grandes populações, como é o caso do Japão, há projetos futuristas que cogitam a possibilidade de que o residente não necessite mais sair à rua. Tudo estará a seu dispor dentro da estrutura arquitetônica e tecnológica do prédio”, completa.
Se pensamos, portanto, nos condomínios como um microcosmo da cidade, em que o síndico é o prefeito e a Assembleia Geral representa o poder legislativo, os japoneses vão além. Sonham com um microcosmo do mundo.
“Condominus” será publicado sempre às segundas e quartas-feiras em um formato que Gomes chama de “folhetim”. “Como se trata de uma narrativa seriada acho que o nome é apropriado. Aliás, o folhetim surgiu na França, mas fez enorme sucesso no Brasil durante o segundo império. Folhetins eram publicados diariamente em jornais das capitais e assinados por grandes autores. Entre eles, Machados de Assis”, diz o autor.
Ele está certo. A telenovela, que há décadas invade o horário nobre da TV, é inspirada nos folhetins. Não por acaso ganhou um sinônimo recorrente: folhetim eletrônico.
O primeiro episódio de “Condominus – Guia de Viagem para Habitantes do Mundo Vertical”, o leitor confere abaixo. Em breve, os próximos capítulos.
Condominus: Guia de viagem para habitantes do mundo vertical
Por Marcus Gomes – Marte está muito longe
Há 8 bilhões de pessoas no planeta desde a última contagem, mas nem todas estão convencidas de que boas soluções urbanas e civilizatórias possam ser a chave para que as previsões catastróficas, inclusive o apocalipse, não nos acertem em cheio quando, em três ou quatro décadas, atingirmos o patamar de 10 bilhões.
Nascem hoje 4,3 bebês por segundo, 258 por minuto, 15.480 por hora, 371.520 por dia, 11,1 milhões por mês, 133 milhões por ano. Todos competindo pelos recursos do planeta.
Mesmo os sinais de diminuição da natalidade em países desenvolvidos, ou em emergentes como o Brasil, não são exatamente indicadores de demografia negativa quando verificamos que o avanço da medicina e da tecnologia, faz com que batamos à porta da imortalidade.
Não viveremos os 969 anos do Matusalém bíblico – que, aliás, foi pai aos 187 –, mas certamente ultrapassaremos a barreira de um século de idade sem sobressaltos, ainda que cataclismas sazonais, vindos de onde vierem, abalem nossa confiança. Então seremos 10 bilhões e um punhado mais até que a curva populacional oscile para baixo.
Como viveremos nos centros urbanos, eis a questão. O cenário mais assustador é aquele que também alimenta as distopias. Em “Blade Runner – Caçador de Androides”, filme de 1982 dirigido por Ridley Scott e estrelado por Harrison Ford, a terra se transformou em um lugar desordenado, caótico, habitado apenas por aqueles que, aproveitando-se do caos urbano, agem à sombra e ao arrepio da lei.
No longa, a maior parte da população já se transferiu para outro planeta – Marte é sempre o objeto de desejo – e agora vive em estruturas modernas, meticulosamente planejadas para proporcionar o melhor conforto possível sem causar danos ambientais irreversíveis.
Depois de esgotar todos os recursos naturais de seu habitat original, os terráqueos aprenderam a lição, ou acham que aprenderam, e o que ergueram na nova terra prometida, atende a todos os conceitos de modernidade. Claro que estamos falando de um condomínio futurista, mas deixemos esse assunto para mais adiante.
No mundo real, entretanto, continuamos aqui com os pés cravados no planeta e não há indícios de um salto tecnológico capaz de proporcionar nossa transferência, de mala e cuia, para um planeta próximo. Não nesse milênio. Ou no outro. Ou no seguinte.
A solução passa pelo que vemos diante de nossos olhos e o que vemos são conglomerados urbanos que ampliam áreas verdes e preservam as originais. Sim, a verticalização é inevitável, mas não deve resultar na confusão que testemunhamos nas metrópoles do mundo – raras exceções. Estamos falando de prédios que ocupam grandes áreas e são incrivelmente altos. Com tecnologia suficiente para abrigar milhares de pessoas, reduzir deslocamentos, aproximar casa e trabalho, oferecer serviços essenciais (e supérfluos), proporcionar qualidade de vida e consumir o mínimo possível de água e energia não-renovável.