quarta-feira, 9 outubro, 2024
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Milho: recombinação genética da antracnose dificulta controle da doença

Embrapa Meio Ambiente – Cientistas da Universidade de Salamanca, em cooperação com pesquisadores e produtores de milho de diferentes países, entre eles os da Embrapa Meio Ambiente, estudaram pela primeira vez a estrutura populacional do fungo causador da antracnose em 108 isolados e encontraram fortes evidências de que a recombinação genética, seja por reprodução sexuada ou por mecanismos alternativos, desempenha um papel importante na sua estrutura, o que difere da visão tradicional de que seja assexuada. Os pesquisadores concluíram que essa recombinação é frequente.

Os cientistas também encontraram evidências de migração recente de isolados entre a Europa e a Argentina, possivelmente devido à importação de material vegetal infectado, o que sugere que a antracnose tem potencial para se tornar muito mais significativa, principalmente devido aos isolados altamente agressivos, à expansão da distribuição geográfica do patógeno e ao aumento da suscetibilidade dos agroecossistemas acentuada pelas mudanças climáticas.

Foram obtidas hastes de milho sintomáticas fornecidas por rede internacional de pesquisadores e produtores de milho, permitindo a amostragem de nove países (Argentina, Brasil, Canadá, Croácia, Eslovenia, Estados Unidos, França, Portugal e Suíça) onde a doença ocorre. Especificamente do Brasil foram analisados 20 isolados de Colletotrichum graminicola, agente causal da antracnose, obtidos de diversas partes do país, explica Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. “Considerando a América do Sul, os isolados originários do Brasil foram agrupados em ramos separados dos da Argentina, sugerindo introduções independentes”, comenta Bettiol.

“Além disso, no estudo foram identificados três ramos principais entre os isolados estudados, sendo um da América do Norte, um da Europa e outro do Brasil, sugerindo que cada um teve uma história evolutiva única”, destaca Serenella Sukno, da Universidade de Salamanca. “Compreender a diversidade genética e os mecanismos consequentes dessa variação nas populações de patógenos é crucial para o desenvolvimento de estratégias de controle eficazes”, enfatiza a professora.

Espécies com potencial para troca genética são mais propensas a superar as medidas de controle porque a recombinação pode resultar em novas combinações de alelos que aumentam a diversidade e aceleram a adaptação em escala de campo. Conforme Sukno, não foi encontrada correlação entre virulência e estrutura populacional, embora foi observado diferenças substanciais no espectro de virulência.

Vários isolados foram mais agressivos do que a cepa originalmente coletada na América do Norte em 1972, durante o surto nos EUA. Isso é particularmente importante porque essa cepa representa a diversidade genética existente no surto e, atualmente, cepas mais agressivas estão presentes na natureza, o que pode representar risco de desenvolvimento de novos surtos ainda mais destrutivos.

Houve uma redução significativa na produtividade nos híbridos testados, o que foi associado, entre outros fatores, à maior agressividade do patógeno e maior diferenciação genética nas populações durante o ciclo da cultura. “Encontramos evidências moleculares de recombinação genética para as três populações globais do fungo”, destaca o professor Michael Thon, da Universidade de Salamanca.

O uso de genótipos distintos de milho pode resultar em diferentes respostas à infecção fúngica. Outro aspecto significativo é que a resistência à antracnose é herdada quantitativamente, ou seja, a resistência do hospedeiro é controlada por vários genes com efeitos genéticos aditivos. Os três clados genéticos desse fungo – agrupamento que inclui um ancestral comum e seus descendentes – detectados podem ter origens evolutivas distintas, englobando uma combinação diversa de genes de virulência, que podem causar diferentes respostas de defesa no hospedeiro.

A pesquisa também destaca que a grande variabilidade na virulência deve ser considerada na seleção de variedades de milho resistentes. Isso tem implicação direta para o manejo da doença porque a migração pode causar o movimento de genótipos mais virulentos e resistentes a fungicidas.

O estudo completo está disponível no link

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