sábado, 8 fevereiro, 2025
HomeAgenda CulturalEspetáculo "Retilíneo" faz sua estreia em Curitiba

Espetáculo “Retilíneo” faz sua estreia em Curitiba

Assessoria – Nos dias 9, 10, 11, 12 e 15 de novembro acontece no Espaço Obragem,  a curta temporada do espetáculo Retilíneo, com dramaturgia e direção de Carlos Canarin, a peça teve a sua estreia na 16ª edição do Festival de Teatro de Pinhais, levando o prêmio de melhor dramaturgia.

O texto criado em 2019, no Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR, foi finalista do I Prêmio Literário Maria Firmina dos Reis e vencedor da I Mostra de Textos Breves do Coletivo A Digna (SP). E em 2023, “Retilíneo” ganha sua primeira montagem. No elenco para a temporada, estão Isabel Oliveira, Carlos Canarin, Kelle Bastos e L. Mazarotto. O espetáculo trata sobre o genocídio negro brasileiro, desde a escravização de povos africanos até a violência policial e o encarceramento em massa nos dias atuais.

A peça é dividida em quatros histórias: uma menina africana que vê a chegada das naus portuguesas; um homem escravizado sendo vendido num mercado público brasileiro em 1700; uma mãe que está afastada de seus filhos; e um rapaz que anda pelas ruas do centro da cidade voltando de uma festa, quando é abordado por uma viatura policial.

O início

Fotos Paulo Silveira

“Retilíneo” começou a ganhar forma no Núcleo de Dramaturgia do SESI-PR em 2019. Carlos Canarin, na época estudante de Teatro da Faculdade de Artes do Paraná, foi o primeiro dramaturgo negro a passar por uma edição do projeto em dez anos de sua existência em Curitiba, ação esta que foi responsável por formar novos escritores para a cena local. Desde o início do processo, Carlos já expressava a vontade de criar um texto que tratasse poeticamente sobre o que é ser negro no Brasil, o que faz uma pessoa ser negra além da cor de sua pele, e sobre os processos de racialização desse corpo. Foi em 2019 que ele teve o primeiro contato com as obras de Abdias Nascimento, o criador do Teatro Experimental do Negro (TEN).

“Durante todo o processo comecei a puxar algumas memórias de criança, da relação com minha mãe, que desde sempre falava que eu era um menino negro em Porto Alegre, no sul do Brasil, em uma capital “branca”, mas que apesar disso a cultura negra fervia e ferve e está em todos os cantos, seja na arquitetura, nos costumes, nas palavras e na religião. E no processo de escrita utilizei essas memórias, usei autoficção, manipulei essas memórias, criando e emprestando isso para outros personagens.

“Retilíneo” é um texto que fala sobre o genocídio do povo negro, que começa desde a escravização com a chegada dos portugueses na África, e na mercantilização e desumanização desses corpos, que segundo Abdias no livro “O genocídio do negro brasileiro”, é um processo que acontece desde quando africanas e africanos foram sequestrados da África, e que continua nos dias atuais. Com o passar do tempo esse processo foi adquirindo outras facetas, como o aumento da população carcerária, a morte matada, a violência policial e também a morte na ordem do simbólico, na ordem da fala, de como a população morre quando perde o direito da palavra ou da escrita, quando deixam de criar a partir das nossas próprias narrativas. “Retilíneo” vem muito desse lugar, de partir de uma memória, de um lugar que é meu que se mistura no coletivo da população negra”, lembrou Carlos Canarin.

Serviço: Retilíneo

Leia Também

Leia Também