terça-feira, 12 novembro, 2024
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Eduardo Pimentel: “Forte linhagem de administradores da política”

Por André NunesAs eleições 2024 para a Prefeitura de Curitiba tiveram uma particularidade: quatro dos postulantes ao Palácio 29 de Março já foram perfilados pela coleção “Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses”, obra criada em 2008 pelo Professor Aroldo Murá (1940-2023).

Eleito prefeito neste domingo (27), Eduardo Pimentel Slaviero foi perfilado em 2019, na edição 11 de “Vozes do Paraná”. Com o título “Forte linhagem de administradores da política”, confira a seguir o perfil escrito pelo jornalista e memorialista Aroldo Murá.

Vozes do Paraná 11: perfil de Eduardo Pimentel

“Vozes do Paraná”

  • Nome: Eduardo Pimentel Slaviero
  • Nascimento: 21/09/1984 em Curitiba (PR)
  • Filiação: Cláudio Gomes Slaviero e Isabel Lunardelli Pimentel
  • Estado civil: Casado com Paula Mocellin com quem tem três filhos
  • Formação: Graduado em Administração, com MBA em Agronegócios, ambos na Universidade Positivo. Especializado em Cidades Inteligentes na Fundação Getúlio Vargas (FGV)
  • Atividades atuais: Vice-prefeito de Curitiba (2017-2024)

“Forte linhagem de administradores da política”

Por Aroldo Murá (entrevista feita em 16 de abril de 2019)

Estar tecnicamente bem preparado, dialogar com as pessoas, mostrar respeito por elas e manter-se distante do pecado capital da soberba, essas são algumas das máximas que norteiam o jovem vice-prefeito de Curitiba em seu projeto político. E que, costuma dizer, apenas reproduz sua forma de ser no dia a dia.

Cuida especialmente de ampliar seu preparo, fazendo MBA na FGV. No Rio, no tema Cidades Inteligentes, de olho grudado nos avanços com que a tecnologia vai entregando a um mundo novo, e do qual ele, Eduardo Pimentel, é um bom representante.

Ao ouvi-lo, não se tem dificuldades em admitir que “o futuro chegou” no universo político em que gravita. Nele não há lugar para visões barrocas na montagem do dia a dia, “somos contemporâneos do futuro! Embora muitos homens públicos ainda estejam agindo e verbalizando sob tons acadêmicos próximos do Medieval.

Eduardo Pimentel atende moradores da região da CIC, na Administração Regional. Curitiba, 29/09/2017. Foto: Pedro Ribas/SMCS

Eduardo Pimentel Slaviero é titular de diferenciado e equilibrado DNA político. Essa qualidade significativa tem explicações fortes: sua ancestralidade é marcada pela presença de homens públicos do primeiro time paranaense. Esse fator define sua linhagem, em que sobressaem nomes como Paulo Pimentel, Edgard Andrade Gomes e Cláudio Slaviero, todos também bem-sucedidos empresários.

No entanto, ele não se contentou com a herança genética e histórica. Fez-se administrador de mão cheia, o que mostrou particularmente como Secretário de Obras de Curitiba. Em associações de moradores e na Câmara de Curitiba, em festas de igreja, em reuniões evangélicas a que comparece, em encontros esportivos, a qualidade de Eduardo, de   ser um “fazedor”, é sempre lembrada. E com uma observação até meio frequente: “Ele se impõe com equilíbrio, sem estardalhaços, jamais exibindo poderes ou autoritarismo”, diz um pastor de uma Assembleia de Deus, zona Leste de Curitiba, V.A.G, que pede anonimato, com a observação: “Um pouquinho de cuidado é sempre prudente…”.

Timidez multiplicadora

Na posse como vice-prefeito em 2017, com a esposa Paula, os avós Rubens e Ruth Slaviero, a irmã Claudia e o pai Claudio Slaviero. Foto: Pedro Ribas / SMCS

O jovem vice-prefeito de Curitiba, que se autoavalia como alguém “um tanto tímido”, jamais exibe suas raízes familiares com ufanismo. Embora tendo fortes motivos para referenciar-se a elas: o bisavô Edgard Andrade Gomes (pai de Ruth, sua avó paterna) foi por quatro mandatos prefeito eleito de Irati, cidade simbólica da economia do Centro Sul do Paraná; o avô Paulo Pimentel, ex-governador do Paraná, fez um governo histórico, com criação de universidades estaduais modelares e exemplares no Brasil, como a UEL, UEM e UEPG; garantiu a renovação da pecuária e construiu muitas rodovias essenciais, além de ter incentivado ações culturais de toda ordem; o pai, Cláudio Slaviero, liderança empresarial muito bem exposta na Presidência da Associação Comercial do Paraná (ACP), exerceu mandato sapiencial em defesa do segmento produtivo.

Modelos não faltam

Enfim, modelos não faltam a Eduardo, a quem os bons avaliadores de nosso panorama político apontam até como nome que “mais cedo ou mais tarde poderá eleger-se prefeito de sua cidade, Curitiba”. Questão de tempo, segundo observadores. Essa possibilidade “não parece muito distante”, adverte-me um jornalista curitibano da velha guarda, conhecido por sua capacidade de previsões em torno de eleições e a sorte de homens públicos.

Esse assunto, uma eventual campanha pelo Palácio 29 de Março, não toma o tempo de Eduardo Pimentel. Pelo menos como realidade próxima. Até porque faz boas referências ao prefeito Rafael Waldomiro Greca de Macedo, nada indicando que estaria em via de afastar-se do alcaide curitibano.

O que Pimentel não nega é a possibilidade – apenas possibilidade, por ora – de mudar de partido. Admite que o PSDB, em que ainda milita, cumpriu papel histórico importante na vida nacional.  Hoje, no entanto, estaria dando exemplos claros de saturação na aceitação do eleitorado. Espera, no entanto, que a legenda saiba promover as mudanças necessárias.

Os frutos da terra

Eduardo na infância. Foto: Acervo pessoal

Eduardo Pimentel garante que foi criança e jovem tímidos. “Até hoje sou tímido”, adiciona, embora dê mostras justamente de facilidade de comunicação e aceitação pelo grande público. Pode até ser bom de discurso, encara com maestria uma câmera e um microfone. Nada surpreendente para quem foi criado na então chamada “Cidade da Comunicação”, nas Mercês, onde se localizavam as empresas jornalísticas de Paulo Pimentel – TV, rádio e jornais.

E onde, de alguma forma, colocou-se sob a “escola” de Mussa José Assis, como simples ouvinte, enquanto ia fazendo o trabalho de serviços gerais com carteira assinada. Seria ele, então, um caso de excepcional batalha em que o homem público vence a sarça ardente da timidez? Tudo indica que sim.

O mais importante, observo, é que o jovem vice-prefeito é absolutamente empático nos contatos com o público de todos os estratos sociais, níveis culturais e faixas etárias. Em encontros pessoais e/ou grupais.

Observo-o atendendo a público de múltiplas feições e necessidades, numa grande audiência. Fico com a impressão de que ele instintivamente domina a noção do espetáculo do grande palco da política. Controla o espaço com a expressão corporal adequada a cada momento. Fato é que nada indica estar ele “encenando” momentos, como o do beijinho em anciãos e crianças. Transborda naturalidade e leveza, inspiração provável do seu grande meteur-en-scène, Paulo Pimentel, o avô.

Em 2012, o casal Eduardo e Paula no batizado do primogênito Luca, com os pais e irmãos de Eduardo. Acervo pessoal

E eu, por segundos, penso estar revendo o secretário de Agricultura de Ney Braga, anos 1960, Paulo Cruz Pimentel, encarnado agora na juventude, agilidade mental, charme e elasticidade de Eduardo. Diria, sem exageros, que é réplica quase perfeita, um saudável mimetismo do então jovem Paulo. Tudo adaptado aos dias de hoje.

Esclareça-se: aquele sorriso dos 1960, reforçando uma mensagem, estava em todas a peças publicitárias de um governo que se marcou pelo mote “Aqui se trabalha” criado pelo inesquecível Espigão, Wilson de Andrade e Silva.

Gente, uma especialidade

Esse trato fácil com as gentes é outra das marcas que herdou dos ancestrais, admite, ao lembrar, por exemplo, que nunca teve dificuldades ou embaraços para conviver com multiformes faunas humanas. Tal como aquela que movimenta “formigueiro” do CEASA de Curitiba, nos dias em que foi diretor daquela central de abastecimento. E à qual, por muitas vezes, chegava de madrugada, quando os caminhões de hortifrutigranjeiros começavam a descarregar os frutos da terra e do trabalho de homens e mulheres.

Naquele vaivém do CEASA, que ficaria muito bem numa tela de pintura naif, com ingênuas figuras e pinceladas descompromissadas, Eduardo Pimentel conta que “alegremente me perdia em meio a 15 mil pessoas que por lá transitavam diariamente, dialogavam, encontravam os amigos, faziam compras, reclamavam, aplaudiam, vendiam”.

Com o avô Paulo Pimentel, sua maior admiração e padrinho político. Acervo pessoal

“Eles são um tipo especial de herói num país onde trabalhar a terra de sol a sol ainda é ato heroico, tantas as pedras que se encontram pelo caminho”, observa Eduardo, com entonação meio poética sobre os agricultores e os feirantes.

Se foi menino criado na chamada alta sociedade, frequentando grupos da aristocracia, e boas escolas – como parte do fundamental feito numa escola histórica, hoje inexistente, o “Meu Cantinho” – de Ada e Adalice Araújo -, já o mocinho do ensino Médio escolheu a experiência do intercâmbio escolar na distante Nova Zelândia. Lá se integrou facilmente a uma nova cultura, vivendo com família da terra, partilhando a grande aventura das trocas culturais, o domínio de um inglês, se não exatamente o de Shakespeare, mas sempre língua universal, surpreendendo-se com uma riqueza orográfica e humana únicas.

Retomando à experiência da central de abastecimento: ela de alguma forma complementou os muitos fins de semana e férias do menino Eduardo, passados nas fazendas e chácaras dos Pimentel e do Slaviero, “sempre acolitado pelo carinho de minhas avós, Ruth e Yvonne”, registra.

Nessa redescoberta do tempo, Eduardo Pimentel transporta-se ainda aos folguedos com os piás filhos dos empregados locais, em quem nunca enxergou ou estabeleceu distinção social. E dos quais teve, ao mesmo tempo, aprendizados valiosos sobre a terra, os bichos, as realidades telúricas e a “conversa” com as águas de rios e fontes, a preservação do meio ambiente.

Asfalto, grande resposta

Ter dirigido a Secretaria de Obras Públicas e Curitiba foi um marco na biografia de Eduardo, com resultados enormes para a cidade, como o programa de asfaltamento, obras em que manejou R$ 120 milhões e contemplando um sem número de áreas e cidadãos.  Esse é um troféu que expõe alegremente, dividindo-o com a equipe que montou: “Só acolhi técnicos na Secretaria.”

Com Paula e os filhos Luca, Eduarda e Leonardo. Acervo pessoal

Nada de “prioridades políticas”, ou seja, as nomeações por puras conveniências políticas.
Só deixou a secretaria porque o irmão Daniel assumiu a presidência da COPEL, e assim quis evitar eventuais conflitos de interesse.

Quase no fim de nosso último encontro – ele sempre acompanhado do amigo e espécie de irmão mais velho e assessor, Paulo Nauiack -, Pimentel mostra-se convivendo muito bem com a sociedade tradicional, aquela da “civilização do livro”. Mas é defensor acendrado das realidades do mundo digital, das redes sociais e sua irreversível caminhada. Tem contas em três das principais delas (Twitter, Instagram e Facebook), não poderia ignorar sua importância e a presteza com que serve à comunidade, fazendo ponte com os administradores públicos.

– É uma questão de segundos, basta para um celular para que a realidade dos reclamos do cidadão chegue ao nosso conhecimento em todas a suas tonalidades de verdade, diz.

Se estuda as cidades, por vezes indo às exaustivas análises da Escola de Chicago, aos enunciados marxistas sobre o urbano, aos “insights” de Durkheim e às primeiras imersões de J.B. Lopes na análise da vida urbana no Brasil – o vice-prefeito Eduardo Pimentel cada vez se convence mais:

“A cidade está em permanente construção, e nela tudo é prioritário. Nunca ela está pronta”.

Por isso mesmo, sua paixão-missão atual: conhecer os desafios e as possibilidades da Cidade Inteligente, realidade que está aí mesmo, superou todas as ficções e é o melhor presente que o homem do século 21 está se dando a si mesmo.

“Somos parceiros do amanhã, irremediavelmente”, completa Eduardo Pimentel, garantindo: “Quem não entender essa realidade, já nasceu velho…”

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