Lançado no início de junho, antes da Copa do Mundo, o livro 2,99, do escritor Marcio Renato dos Santos, vem encontrando leitores em vários pontos do país. O professor da Universidade de Caxias do Sul João Claudio Arendt leu o livro e afirma: “Leitura recomendada aos amantes da narrativa enxuta.” Mais que isso. Arendt ainda diz: “Há em 2,99 uma voz autoral que se afirma como alternativa frutífera à mesmice dos modismos literários atuais.”
Arendt não é o único a ler e a se entusiasmar com 2,99.
CONTRA “MESMICES” (2)
Aguinaldo Medici Severino, professor da Universidade Federal de Santa Maria, leu e resenhou o livro de Marcio Renato dos Santos – conteúdo publicado no blog Livros que eu li. “As histórias são curtas e convincentes”, elogia Severino. “Os contos não são verborrágicos, nem servem de plataforma para longas teorias sociológicas e/ou psicológicas.
Eles apresentam situações corriqueiras – que estão sempre no limite da estranheza ou da loucura, mas nunca se abrigam na irrealidade ou no fantástico”, escreveu o estudioso, que ainda acrescenta: “Dezesseis invenções (são 16 contos no livro) onde o leitor acompanha sempre um narrador muito curioso do destino das pessoas que encontra ao acaso (e boa parte desta curiosidade o Marcio Renato dos Santos alcança transferir ao leitor através de sua boa prosa).”
Mas não são apenas os acadêmicos que se empolgam com a ficção do autor curitibano. O escritor sergipano Antonio Carlos Viana, considerado um mestre do conto, leu 2,99. “Sei como é difícil escrever conto. Cada um tem de ser redondo, sem brechas, e isso você faz com toda segurança, como quem não faz esforço, mas eu conheço bem esse disfarce de fazer a coisa fluir para o leitor como se a gente não tivesse desprendido muito esforço, mas tudo é fruto de muito trabalho, de muito artesanato. Mas se não for assim, adeus, literatura”, escreveu Viana, editado pela Companhia das Letras e autor, entre outros, de Cine privê — vencedor do prêmio APCA 2009 de melhor livro de contos.
CONTRA “MESMICES” (3)
Publicado pela Tulipas Negras Editora, editora curitibana, 2,99 circula em todo o país, metade da tiragem de 1mil exemplares já foi vendida, mas até o momento nenhum jornal ou revista publicou resenha sobre a obra. O autor não reclama. “É assim mesmo. 2,99 saiu por selo pequeno e o espaço, na imprensa, é difícil. Mas o livro circula: é o que importa. Já enviei e estou enviando para escritores, professores e leitores de todo o país”, diz Marcio.
2,99 está à venda na Livrarias Curitiba, na Poetria Livros e na Arte & Letra por R$ 30. Chama atenção, no entanto, um outro fato: por que ninguém ainda fez um matéria sobre a origem do nome da editora? Afinal, Tulipas Negras foi uma “sociedade secreta” curitibana da metade do século 20 que, diz a lenda, foi frequentada por pessoas que se tornaram famosas na cidade, algumas delas ainda vivas. Por que o silêncio sobre as, ou melhor, “os” Tulipas Negras?