domingo, 15 junho, 2025
HomeMemorialEXECRÁVEL, 'POLÍCIA DO PENSAMENTO' NÃO TEM PARTIDO

EXECRÁVEL, ‘POLÍCIA DO PENSAMENTO’ NÃO TEM PARTIDO

Obra de Max Beckmann, apontada por Hitler como Arte Degenerada
Obra de Max Beckmann, apontada por Hitler como Arte Degenerada

A expressão foi cunhada por George Orwell em ‘1984’ – um livro cada vez mais premonitório: “Thinkpol” que, na expressão abreviada em inglês, significa Polícia do Pensamento. Foi o que se viu no último fim de semana. A exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” foi fechada com um mês de antecedência pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, depois que virou alvo de críticas de grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre).

Nas redes sociais, onde propagou as críticas à mostra que incluía obras de Volpi e Cândido Portinari, o MBL comemorou: “foi uma vitória da pressão popular”. É difícil definir “pressão popular”. Talvez com ajuda da novilíngua de Orwell. “PopPress”?

DIREITA, VOLVER

É o autoritarismo e o estado policialesco que o escritor inglês quis expressar. O pior dos mundos e esse mundo não tem lado. Se você abominava o exagero da esquerda em condenar ao índex qualquer obra que emanasse racismo, homofobia ou “apropriação” cultural, eis a direita apresentando seu cartão de visita.

“Cenas de pedofilia, zoofilia, sacanagem e ofensa a Cristo, como as exibidas nos quadros são uma “vergonha aos gaúchos”, define o MBL do Rio Grande do Sul. No último sábado (9), militantes do movimento visitaram o centro cultural e gravaram vídeo execrando a mostra. O vídeo teve 400 mil visualizações e foi o bastante para que o Santander fechasse as portas da exposição e divulgasse nota com “pedido de desculpas”.

A ARTE DEGENERADA DO NAZISMO

Há um paralelo inevitável entre o que ocorreu na mostra “Queermuseu”, que tinha como propósito festejar a diversidade”, e na exposição “Arte Degenerada”, em julho de 1937 – há 80 anos, portanto – no museu de Munique, na Alemanha nazista. A mostra foi apenas o começo de um movimento que tirou cerca de 20 mil obras de 140 artistas de cem museus e galerias do país. Dois anos depois, 1.004 quadros e 3.825 imagens foram jogados à fogueira em Berlim.

Orwell escreveu “1984” no apagar das luzes da II Guerra Mundial, presenciando a ascensão e queda do nazismo. Contudo, a inspiração para sua obra mirou em outro totalitarismo, o de esquerda, que classificava a arte e os artistas segundo a cartilha do realismo socialista. Tudo o que não obedecia a esse ditame tinha destino certo: o fogo e a cinza para as obras, o gelo da Sibéria e a morte para aqueles que as produziam. Assim caminha o MBL.

Leia Também

Leia Também