quarta-feira, 9 outubro, 2024
HomeAgenda CulturalZahy Tentehar: “Precisamos voltar a ser humanos e não máquinas”

Zahy Tentehar: “Precisamos voltar a ser humanos e não máquinas”

Por André Nunes – Por sua interpretação no monólogo “Azira’i”, a atriz Zahy Tentehar chegou ao Festival de Curitiba como a primeira atriz de origem indígena a receber o Prêmio Shell de Melhor Atriz. A peça fez duas sessões lotadas na Mostra Lucia Camargo neste sábado (6) e domingo (7), no Teatro da Reitoria.

Para a atriz nascida na aldeia Colônia, no território indígena Cana Brava, no Maranhão, o prêmio é importante em duas dimensões bem diferentes. Primeiro, para chamar a atenção do país para as muitas nações que existem dentro da cultura do país.

“As nações indígenas são a nossa primeira civilização, mas que a gente desconhece. O Brasil é uma área indígena e falo isso sem um lugar de prepotência, arrogância, mas de dizer que sim, nosso país é indígena. Então, que bom que finalmente uma pessoa indígena pôde ser reconhecida pelo seu talento, não por ser indígena”.

Foto: Annelize Tozetto

Eis a segunda parte do valor do maior prêmio do teatro brasileiro, o reconhecimento de um trabalho duro e não convencional. “Faço muita questão de dizer isso, não me interessa que me chamem por eu ser indígena. Sou uma pessoa que tem capacidades e limitações, tenho outro estilo de aprendizado, outro tempo de aprender as coisas, mas isso não me tira as minhas potencialidades. Então, me orgulho muito de poder ter ganhado uma premiação como melhor atriz e não como uma melhor atriz indígena”.

“Azira’i que dá nome ao espetáculo é a mãe de Zahy. A primeira mulher pagé da Reserva Indígena de Cana Brava”. Um dos diretores da peça, Duda Rios conta que a equipe decidiu contar essa narrativa nordestina, que foge do imaginário do nordeste como imagens da seca, do cangaço ou das praias.

Foto: Annelize Tozetto

“A gente leva pra uma geografia do Cerrado, uma aldeia indígena em que uma mãe passa esse dom de curar as pessoas, de se comunicar com um universo que é difícil de traduzir em palavras, ela dá esse dom a Zahy e, no meio dessa transição, a relação dessas duas mulheres é atravessada por conflitos principalmente nesse deslocamento delas da aldeia pra um mundo urbano que tem um atravessamento cultural muito doloroso nesse processo”, relata Duda Rios.

Durante a coletiva de imprensa, Zahy falou sobre a família e sobre o filho que foi diagnosticado dentro do espectro autista e como isso tem mexido com suas próprias verdades como artista. “A gente só deseja as coisas porque a gente as vê. Então tem uma coisa nesse sentido que me fez desenvolver algumas sensibilidades, que chamo de hipersensibilidade. Me traz muitos benefícios porque, enquanto artista, acho que hoje está cada vez mais difícil a gente voltar a ser humano, estamos virando cada vez mais máquina.”

Leia Também

Leia Também