sexta-feira, 13 dezembro, 2024
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Um produto chamado “Brazil”

(por Rodolpho Feijó, correspondente da coluna em Londres)

Brasil, terra da especulação imobiliária
Brasil, terra da especulação imobiliária

Quando a FIFA anunciou em 2007 a Copa no Brasil, diversas espécies de aves predadoras de Wall Street e falcões da City of London passaram a sobrevoar terras tupiniquins em busca de presas fáceis – matanças garantidas para satisfazer suas demandas por lucros. O Brasil tornou-se a então “menina dos olhos” do mercado internacional, dando início a um canibal processo de produtização de um povo, exportando uma nova marca em escala global: o Brazil com “z”.

Bandeirolas canarinhas flamulam em gôndolas de supermercados do mundo e nossas cores passam a estampar manchetes da Bloomberg. Somos uma brand – uma nação em leilão, à mercê da especulação de um mercado financeiro mundial desesperado por crescimento. Quer pagar quanto?

E antes mesmo do início da Copa, os predadores já comemoram a papança ao colher seus dividendos. Em Zurique, a FIFA anunciou um faturamento recorde: US$ 1,386 bilhão, sendo US$ 601 milhões provenientes de direitos de TV e US$ 404 milhões em marketing. Mas além das aves de rapina sanguinárias, quem está no topo desta cadeia alimentar?

Certamente não é o Brasil da dona Maria, classe C em ascensão, que confeccionará miçangas para alguns dos 600 mil turistas que visitarão o país.

Tampouco houve um ganho real em tecnologia, capacitação profissional e educação – o rei da floresta não é a República Federativa do Brasil.

Mas de todas as fantasias financeiras do Brazil com “z”, nenhuma supera as falácias do mercado imobiliário. Sob um plácido silêncio do governo e do Banco Central, fabricou-se um paraíso artificial movido pela vertiginosa valorização de propriedades, garantindo lucros jamais antes vistos para as megacorporações. Redescobriram o Caminho das Índias, que nada mas faz do que dar continuidade a um lusitano movimento ondular, singrando nosso capital ao além-mar. Tem gente de grosso calibre avisando por aí: é apenas uma questão de tempo até a primeira peça do dominó imobiliário tombar.

Então, o pior. O mercado financeiro fará fatalmente uma nova vítima. Ela é linda e jovem, de uma inocência virginal – a noiva está em verde-e-amarelo.

Brasil, terra da especulação!

Reduzimo-nos a um código de barras banal, com data de fabricação e prazo de validade. Onde o valor de um povo se mede somente pelo preço de sua mão de obra. Bem-vindos, senhoras e senhores, ao espetáculo da produtização.

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