quarta-feira, 5 fevereiro, 2025
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Sul e Sudeste são campeões de câncer de mama, aponta Cícero Urban

Cícero de Andrade Urban
Cícero de Andrade Urban

Cícero de Andrade Urban, oncologista e mastologista, retorna de Orlando, Estados Unidos, onde participou do Congresso Mundial de Mastologia, que teve a presença de 700 especialistas do mundo todo.

Ao cirurgião paranaense coube ministrar um curso de reconstrução mamária, de que participaram 60 cirurgiões de diversos países.

Nos painéis, coube ao professor de Medicina da Universidade Positivo – e vice–presidente do Instituto Ciência e Fé – apresentar experiência que desenvolve em Curitiba com pacientes submetidas a mastectomia. E observou:

Chama a atenção do mundo todo à necessidade de melhorarmos o acesso das pacientes não apenas ao tratamento oncológico adequado. Mas também à reconstrução e à reabilitação da qualidade de vida, que fica no centro das atenções.

2-Hospital-NS-das-Graças-loA importância do especialista Cícero Urban pode ser avaliada por ter sido o único brasileiro, desde o início do chamado Consenso de Saint Gallen (Suíça) de Câncer de Mama, a ter sido um dos conferencistas do maior evento científico mundial da área. Isso ocorreu em 2012. E com um detalhe: desde o início do Consenso de Saint Gallen Urban foi o único brasileiro a fazer conferência para ao grande plenário do evento. “Ser convidado para falar em Saint Gallen é um prêmio”, explica Cícero.

Para ele, as regiões Sul e Sudeste do Brasil são aquelas que apresentam maiores índices de câncer de mama.

Em Curitiba, a atuação do cirurgião ocorre especialmente no Hospital N.S. das Graças e na Oncoclínica, onde ele orienta estagiários de vêm de diversos países, muitos deles norte-americanos, canadenses e europeus. A seguir, entrevista com Cícero Urban:

2 – BRASIL NA PREVENÇÃO

a) O mês de outubro é o mês do Câncer da Mama. Neste ano, o Brasil colocou-se em alguma posição de vanguarda na prevenção desse câncer?

Infelizmente o Brasil ainda precisa avançar muito no quesito prevenção. Não existem programas oficiais de rastreamento, nos mesmos modelos que encontramos em países desenvolvidos. Aqui no Brasil convivemos com duas realidades bastante distintas. De um lado pacientes no sistema público, com grandes dificuldades para fazer o rastreamento e também para o acesso ao tratamento em tempo hábil. Do outro lado, as pacientes que tem planos de saúde, onde temos conseguido o chamado rastreamento oportunístico. A paciente ao ir ao médico, este solicita a mamografia e com isto, para este grupo, temos o diagnóstico precoce nos mesmos moldes de países desenvolvidos. O câncer de mama, vale lembrar, é uma doença com um potencial de cura bastante elevado (pode passar de 90% em alguns casos) e sem a necessidade de tratamentos mutilantes, se diagnosticado no início. Por isso a importância fundamental do diagnóstico precoce, sobretudo com a mamografia.

3 – O CÂNCER MAIS AGRESSIVO

b) quais são os tipos de câncer de mama existentes? O mais agressivo deles qual é como se caracteriza?

São mais de 100 doenças diferentes, entre todos os subtipos existentes. Existem alguns bastante agressivos e de crescimento rápido, mas não são, felizmente, a maioria. O câncer de mama, de um modo geral, tem crescimento lento. Nem sempre o subtipo mais agressivo é o que tem o pior prognóstico. Alguns desses casos podem apresentar respostas muito importantes ao tratamento e serem curados. Portanto são diversos os fatores envolvidos, e a biologia tumoral é um deles. Assim, tumores com características mais agressivas, se não tratados, podem levar a metástases em outros órgãos rapidamente. Porém, se tratados adequadamente e tendo uma boa resposta ao tratamento, as chances podem ser boas, mesmo nesses casos.

4 – NO SUL E SUDESTE

c) Por regiões, seria possível mapear as áreas com maior incidência de câncer de mama no Brasil?

O sul e o sudeste são as regiões com a maior concentração de casos.

d) Explique as relações existentes entre essas maiores incidências de câncer de mama e a população por ele atingida? Há ‘preferências’ étnicas no caso câncer de mama?

Existem diferenças sim, e a população branca é a mais atingida. O modelo “étnico” apesar de ainda ser utilizado, é falho. Talvez as diferenças “étnicas” se devam mais a fatores ambientais, genéticos e hormonais, do que propriamente de um grupo étnico específico. O câncer de mama é multifatorial, e uma a cada 8 mulheres terá ele. Nos homens a doença é rara, sendo 100 vezes menos frequente do que nas mulheres. O fato das mulheres não estarem tendo filhos ou estarem gestando mais tardiamente também tem influência neste crescimento. Porém precisamos lembrar que o câncer é uma doença que faz parte da modernidade. De estarmos vivendo mais e melhor. Há 100 anos atrás, as causas principais de morte estavam relacionadas a doenças infecciosas.

5 – OS AVANÇOS MÉDICOS

e) Uma breve exposição sobre os avanços da medicina mundial no combate/prevenção do câncer de mama.

Tivemos grandes avanços nos últimos anos. Os testes genéticos permitem hoje entendermos melhor a carcinogênese e estabelecermos medidas de prevenção em famílias com câncer hereditário. A biologia molecular avançou e individualizou o tratamento com anticorpos monoclonais (tratamentos mais específicos e com menos efeitos colaterais) e quimioterápicos individualizados para cada subtipo tumoral.

A cirurgia e a radioterapia ficaram mais eficientes e menos agressivas, preocupando-se não apenas em extirpar o tumor, mas também em manter a qualidade de vida das pacientes. Enfim, tudo isto ocorreu sobretudo nos últimos 30 anos. E o Brasil tem acompanhado todo este progresso. Temos excelentes especialistas aqui.

f) Faça relato sintético dos fatos mais importantes do Congresso de Mastologia de que acaba de participar nos em Orlando. E fale de sua participação no evento.

Tivemos a oportunidade de apresentar a experiência nossa com a reconstrução mamária com próteses nas pacientes submetidas a mastectomia. Chama a atenção, no mundo todo, a necessidade de melhorarmos o acesso das pacientes não apenas ao tratamento oncológico adequado, mas também à reconstrução e à reabilitação. A qualidade de vida das pacientes está no centro das atenções.

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