Por André Nunes, com informações da Banda B – Morreu nesta segunda-feira (9), aos 99 anos, o escritor Dalton Trevisan, conhecido como Vampiro de Curitiba. A apuração da morte deixou em polvorosa a classe jornalística na noite desta segunda-feira chuvosa: o obituário padrão, do serviço funerário municipal, foi publicado no site e depois apagado. Pelo Instagram, o ex-prefeito Gustavo Fruet (familiar do escritor) postou um storie sobre a morte, e também apagou em seguida.
Afinal, o Vampiro teria ou não morrido? Os motivos da discrição e mistério são os mesmos que rondam Trevisan pelo menos desde os anos 1980, quando deixou de ir a eventos públicos e passou conviver com poucos amigos, além dos familiares. Os hábitos reclusos só alimentaram a fama ao longo das décadas seguintes. Nem suas correspondências ele recebia, o fazendo por intermédio do amigo livreiro, Aramis Chain.
Tanto que, nem ao receber o Prêmio Camões, em 2012, Dalton Trevisan se deu ao trabalho de responder ou comparecer à premiação, maior reconhecimento a um escritor de língua portuguesa. Afinal, o Vampiro não precisava de nada disso…
Obrigado por seu valoroso legado literário, Dalton. Após 99 anos, ele descansa em paz, livre de todo assédio e burburinho midiáticos que tanto o incomodavam. O Vampiro alçou seu último voo e entra para a eternidade como as inúmeras lendas em torno de sua vida e obra.
A notícia
Não se sabe o que aconteceu com o escritor, mas de acordo com o registro da lista de falecimentos da Prefeitura de Curitiba, Dalton Trevisan morreu em casa. O mesmo informativo, que trazia todas as informações sobre a morte de Dalton e que, logo depois de publicado, sumiu, também dizia que o escritor não iria ter velório. A informação é de que Dalton Trevisan seria cremado em um cemitério da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
O esclarecimento veio logo depois: segundo Clarissa Grassi, diretora do Departamento de Serviços Especiais na Prefeitura de Curitiba, a presença no obituário não é compulsória para todos os cidadãos que falecem na capital.
Apesar de todo o mistério, a informação da morte de Dalton foi confirmada por Gustavo Fruet, familiar do escritor. Pelas redes sociais, o ex-prefeito de Curitiba e ex-deputado federal lamentou a partida do Vampiro de Curitiba:
“Faleceu Dalton Trevisan, 99 anos, um dos maiores autores da literatura brasileira e como ninguém retrata a natureza complexa de personagens e de Curitiba! Até o anúncio de seu falecimento entrará para as lendas do Vampiro!”, postou Fruet.
Trajetória
Dalton Jerson Trevisan era advogado e escritor. Nascido em Curitiba em 14 de junho de 1925, se formou em direito pela Faculdade de Direito do Paraná e chegou a exercer a profissão por sete anos. Depois, abandonou a advocacia para trabalhar em uma fábrica de cerâmicas da família.
Dalton Trevisan estreou na literatura em 1945, com a novela “Sonata ao Luar”. Entre 1946 e 1948, liderou o grupo literário que publicava a revista “Joaquim”, se tornando porta-voz de vários escritores, críticos e poetas.
Em 1965, a publicação do livro “O Vampiro de Curitiba” rendeu a Dalton o apelido, aliado a seu temperamento recluso. O escritor não gostava de ser visto nem mesmo durante as idas ao mercado, ficando basicamente todo o tempo em sua histórica casa, na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros.
Ao longo da carreira, ficou conhecido como o maior contista brasileiro contemporâneo e recebeu, em 2012, o Prêmio Camões, pelo conjunto da obra. Entre suas principais honrarias, estão quatro prêmios Jabuti (1960, 1965, 1995 e 2011), dois prêmios da Biblioteca Nacional (2008,2015), um da APCA (1976), um Portugal Telecom (2003) e um Machado de Assis (2012).
Mais recentemente, em 2021, Trevisan foi retirado da tão tradicional casa – que já entrou para o imaginário de seus leitores e é uma das poucas que sobraram no Alto da Glória – e foi morar em um apartamento na Alameda Doutor Muricy.
Em junho, a revista Piauí contou que, mesmo aos 99 anos, Dalton continuava trabalhando. Estava planejando novas edições de seus contos e também organizava seu acervo. O escritor se mantinha distante da imprensa, recusava todos os pedidos de entrevista e não aceitava ser fotografado.
Em 2022, Dalton Trevisan teve um relato escrito pelo Professor Aroldo Murá:
Dalton Trevisan, 96: firme na arte de desvendar esquisitices curitibanas