quinta-feira, 16 janeiro, 2025
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“Scholars” e outros notáveis em áreas culturais do Paraná

Paulino Viapiana, Fausto Castilho e Ennio Marques Ferreira
Paulino Viapiana, Fausto Castilho e Ennio Marques Ferreira

Não sou dos que acham que apenas intelectuais de grande porte, ou professores universitários de alto coturno, devam ocupar posições de relevo em atividades culturais oficiais no Paraná ou no país.

Como observador dessa área, visão que foi acentuada a partir de 1972, quando Jaime Lerner me fez membro do primeiro Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Curitiba (ao fundá-la), posso afirmar: notáveis dirigentes culturais, que vi fazer grandes feitos, não foram “scholars”.

Um bom exemplo foi o de Ennio Marques Ferreira, engenheiro agrônomo de formação, que presidiu com maestria e criatividade o antigo Departamento de Cultura do Paraná, no governo Ney Braga. E depois outros organismos, como a Casa Muricy.

O Departamento de Cultura do Estado foi o precursor da atual Secretaria de Estado da Cultura.

O nome de Ennio consolidou-se a partir dali como o criador e promotor dos inigualáveis Curso Internacional de Música e Festival Internacional de Música, que prosseguiu – com enorme repercussão – depois do primeiro governo Ney Braga. E muito mais ele fez, em áreas como artes plásticas.

Na própria FCC, Ennio colocou sua expertise, bom trato, equilíbrio psicológico, sensibilidade artística e padrão moral a serviço da FCC.

Isso foi com Saul Raiz na Prefeitura. Aliás, a Fundação Cultural de Curitiba abrigou outros diretores de alto padrão, como Maria Elisa Ferraz de Campos, Aramis Millarch, Guido Viaro. No Conselho da FCC, passaram nomes como Eduardo Virmond, Jayme Guelmann, Newton Freire-Maia.

2 – “APENAS JORNALISTA”

O fato de o secretário da Cultura do Paraná, Paulino Viapiana, ser “apenas” jornalista – como acentuam alguns dos que se lhe opõem – não o desmerece. Afinal, jornalistas, acredito, têm acuidade ampla e irrestrita, enfeixam, como poucos, as qualidades de executores de políticas culturais. Assim foi com Millarch, por exemplo.

Paulino, é certo, vai driblando uma maré financeira que assola os cofres públicos. No cômputo geral, tem a seu favor acertos. A par de erros que ele pode corrigir, ainda há tempo.

Mas não aceito que o secretário seja condenado por ser “apenas um jornalista”, como ouvi ontem de um “scholar” da UFPR e PUCPR.

Na verdade, quero lembrar que René Dotti e Eduardo Virmond, antes de passarem pela área cultural oficial do Estado, foram jornalistas do antológico Diário do Paraná. E depois se transformaram nos grandes advogados que são.

3 – MORRE FAUSTO CASTILHO

Aproveito, lastimando, o gancho para registrar:

Ontem fiquei sabendo da morte de Fausto Castilho, 85 anos. Ele, de todas as grandes personalidades da vida intelectual paranaense, foi seguramente a de maior expressão cultural.

Natural de Cambará, esse “pé vermelho” insistiu, desde adolescente, que queria ser filósofo. Queria estudar em Paris, decisão apoiada por Oswald de Andrade e Sérgio Millet, que convenceram o avô de Fausto a consentir na carreira do neto.

Teve carreira de sucesso, apaixonado pelo ensino e pesquisa: foi um dos criadores da Unicamp, tornando-se diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (69/72).

Em 1947, na França foi aluno de pensadores como Gastón Bachelard, Ferdinand Alquié, Henri Gohier. Aconselhado pelo amigo Merleau Ponty, seguiu em 1949 para Friburgo, Alemanha: foi estudar com Heidegger, um dos grandes pensadores do século 20.

4 – FOI DIRETOR DA BPP

No Paraná, chegou a lecionar na UFPR. Depois lecionou na USP, UNESP e Unicamp.

Um dos marcos – para os paranaenses – foi ter Fausto Castilho ocupado a diretoria da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), fato que ontem me era lembrado pelo jornalista Ayrton Luiz Baptista.

E mais lembrou o veterano jornalista Ayrton: “Na verdade, dois outros notáveis intelectuais, os professores Lamartine Correa de Oliveira Lyra e Luiz Gonzaga Paul também foram diretores da Biblioteca Pública do Paraná.”

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