quinta-feira, 22 maio, 2025
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Posse da “imortal”

Ernani Buchmann; Maria José Justino
Ernani Buchmann; Maria José Justino

“Está destinado a ficar na história desta Academia”, disse ontem à coluna um intelectual, privilegiado observador, que esteve presente à solenidade de posse de Maria José Justino como ‘imortal’ da Academia Paranaense de Letras (APL).

Ele se referia particularmente ao discurso de Ernani Buchmann, saudando a empossada, “uma obra de literatura em si”, completou o observador, depois de lembrar que “não poucos dos presentes choraram com a fala”…

Li o discurso de Ernani. Por duas vezes.

Só um leitor exigente

Na segunda vez, desfiz-me da qualidade de amigo e admirador de Buchmann para colocar-me apenas na posição de leitor exigente, sempre fascinado por trabalhos que abordem tipos humanos com sabedoria e graça. Caso do “speech” de Ernani, que nem de perto passou pelos panegíricos.

Conclui que, à parte ser amigo dele, estou diante de um precioso retrato da nova ‘imortal’, especialmente pela inteligência e a forma aguda com que Buchmann traçou a trajetória dessa mulher muitas vista como, “apenas”, uma grande expert em artes plásticas e história das artes.

Ernani mostrou-a em suas raízes, registradas num Brasil profundo, de comerciantes e fazendeiros nordestinos, de resistentes senhores do Nordeste, marcada por tonalidades telúricas únicas. Gente que é um pouco portuguesa, índia, e também com sangue judeu sefaradita.

E mais que isso: a fala nos desvela a história de uma mulher libertária, muitas vezes encoberta pela fisionomia de uma acadêmica consolidada.

De vitalino à arte moderna

Um trecho do discurso de Ernani: “Maria José fez nas artes a trajetória de seus pais em vida. Saiu das esculturas do Mestre Vitalino, em Cachoeirinha do Una para chegar à Semana de Arte Moderna em São Paulo.

Seu livro O Banquete Canibal é uma delícia para os olhos e para a mente.

Uma pequena obra-prima sobre Tarsila do Amaral. A pintora, com Anita Malfatti, Oswald, Mário de Andrade e outros da vanguarda paulista, acendeu a chama da modernidade nas artes brasileiras, aproximando nossos artistas dos movimentos europeus.

Foi o impulso necessário para que nos aproximássemos do que se fazia por lá, procurando fugir do academicismo que nos torturava a pintura e as letras.

Em Tradição/Contradição, Maria José Justino coloca seu olhar sobre o modernismo entre nós, paranaenses.”

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