Por Patrícia Rehder Galvão poucos a conhecem.
Mas o nome Pagu (apelido) é parte da história cultural do Brasil.
Também ficou conhecida por sua militância comunista (PCB).
Foi feita prisioneira política por 23 vezes, segundo seus biógrafos, e até na França, nos anos 1930, foi presa como “comunista estrangeira”.
Para que se evitem equívocos, registro: Pagu (Patrícia Galvão) não participou da Semana de Arte Moderna de 1922 (tinha 12 anos na época).
No entanto, foi peça vital no Movimento Modernista brasileiro, particularmente no Movimento Antropofágico.
“Parque Industrial” é seu romance muito conhecido.
Ficou conhecida por obra teatral e também, por traduções de autores como Ionesco.
Ardorosa defensora do marxismo, Pagu depois renunciaria à prédica comunista, e escreveu um livro em que denunciou suas desilusões políticas.
De maneira oportunista, um partido político usou o nome de Patrícia Galvão, a Pagu, apontando-a como “militante histórica”. Foi na última campanha eleitoral, fato com o qual discorda o leitor atento Antenor Demeterco Junior, desembargador aposentado do TJPR.
A coluna publica a correspondência de Demeterco, nova prova de que nada passa debaixo da lupa crítica desse leitor voraz e conhecedor profunda da história política do Brasil no século 20.
A seguir, a correspondência de Demeterco, com observações oportunas:
2 – O NOME EM VÃO
“A propaganda política na TV possibilitou que um partido político usasse o nome de Patrícia Galvão (1910-1962), conhecida como Pagu, como um dos seus membros históricos mais brilhantes.
É necessário que se estabeleça a verdade, como homenagem à memória da própria Pagu, mulher marcada pelos encarceramentos e torturas que sofreu.
Consciente em determinado momento de sua existência, de seu engajamento a uma ideologia inócua, que lhe destruiu a vida, a inolvidável escritora e teatróloga tentou o suicídio diversas vezes.
E publicou um texto denunciando o absurdo de sua antiga crença:
“Verdade e Liberdade” (1950).
Investe “contra uma esquerda totalitária que distribuiu palavras de ordem arruinando a democracia” e “contra uma direita reacionária”, que não quer ver o esgotamento da civilização atual (“Pagu, Vida e Obra”, p. 51, de Augusto de Campos).
3 – SEMENTE DE SOJA
Durante anos militou pela destruição da burguesia como classe, mas visitando uma das sociedades tidas e consideradas sem distinção de classes, desiludiu-se: viu com seus próprios olhos, de um lado, a infância miserável, “os pés descalços e os olhos agudos de fome”, e do outro, hotel de luxo para altos burocratas (ibidem, p. 250).
Na China de então (1934) teve presença na coroação do imperador fantoche do invasor japonês: Pu Yi, do estado de Mandchu – Kuo.
E da amizade com este consegue sementes selecionadas de feijão soja, que pela via diplomática chegaram ao Brasil.
Colaborou assim, com o incremento de um setor exponencial da economia nacional.
Parece que Pagu merece ser lembrada não pela ideologia que rejeitou, mas sim pela sua obra literária e pelo impacto que teve na economia brasileira após sua morte.
Antenor Demeterco Junior”.