A fria notícia –’funcionários do Hospital Evangélico de Curitiba voltam a fazer greve’ -, e que tem frequentado o noticiário da mídia nos últimos dias, não se esgota na questão de salários em atraso.
Por trás dessa situação de salários atrasados “que clama aos céus”, como disse ontem à coluna um pastor batista, “pois digno é o operário de seu salário”, há uma história surda, de confrontos entre antigos administradores da Sociedade Evangélica Beneficente (SEB) com seus apoiadores, e a atual administração, presidida pelo presbítero João Jaime Nunes Ferreira.
A SEB é a mantenedora do Hospital e da Faculdade Evangélica.
PARA ENTENDER (2)
O mais recente lance desse confronto, propiciado por representantes do grupo que administrou a SEB por 20 anos e a entregou com um passivo de perto de R$ 260 milhões, foi assembleia extraordinária da instituição, dias atrás.
Da reunião, as igrejas que apoiam o grupo identificado com André Zacharow, indicaram 5 representantes para atuarem em regime de “cogestão” com João Jaime.
Para bons avaliadores do que ocorre nesse universo de igrejas evangélicas (12) com direito a voto na SEB, estaria havendo “um reposicionamento dos seguidores de Zacharow”, que, derrotado nas urnas este ano, e sem mandato de deputado federal a partir de janeiro de 2015, pretenderia reassumir o comando da SEB.
PARA ENTENDER (3)
Oficialmente, ninguém se manifesta sobre o assunto, embora sejam muitos os rumores em torno do tema. Mas à parte rumores, a equipe que atualmente dirige a SEB alega que as dificuldades que encontra são em grande parte geradas “pela situação herdada do grupo Zacharow”. Uma delas, das mais graves, o veto do Tribunal de Contas da União (TCU), que considerou irregular as aplicações de recursos – R$ 3 milhões – oriundos de emendas orçamentárias apresentadas por Zacharow. “As emendas criaram, por serem irregularmente aplicadas, a sinuca de bico em que o Evangélico se encontra até hoje”, diz um pastor ligado à SEB, lembrando: “A partir dessa barbaridade, todos os óbices se apresentam legalmente contra a SEB”.
PARA ENTENDER (4)
No meio desse tiroteio, até familiares de Zacharow, com liderança na Primeira Igreja Batista de Curitiba (PIB), são apontados como parte do “quartel general dos que querem retomar a SEB”. Pode ser uma acusação a mais, dentre as tantas com que se brindam os grupos litigantes.
“E todos os grupos vão atuando com espírito evangélico”, diz, irônico, um médico agnóstico que ainda trabalha no Evangélico.
Além desse puzzle das emendas que viraram escândalo nacional, o grupo de anteriores dirigentes terá mais problemas pela frente: por exemplo, o rescaldo dos criados pela médica Virgínia Soares, antiga “protegée” do grupo Zacharow, por quem foi contratada e apoiada. Ela, como se sabe, foi apontada pela Polícia Civil, como responsável por mortes mal explicadas na UTI do Evangélico.
E não esquecer: o ministro Celso Mello, STF, mandou a Polícia Federal ampliar investigações sobre a participação de empregados do Evangélico na campanha eleitoral de Zacharow, nas eleições de 2010.