domingo, 16 fevereiro, 2025
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Opinião de Valor: “Poor Latin America”

Por Antenor Demeterco Junior

A publicação recente das memórias do diplomata americano George F. Kennan (1904-2005), autor da célebre “teoria da contenção” da hoje extinta URSS, que levou a derrota desta na “guerra fria”, menciona um relatório de viagem à América Latina.
Este relatório não foi distribuído ou publicado pelo Departamento de Estado americano, ou seja, permaneceu desconhecido do público, em especial, do latino-americano.
George Kennan iniciou uma viagem à América Latina em 18 de fevereiro de 1950, que não foi “nada agradável”, como ele nos conta no 1º volume, p. 397 e seguintes, de suas memórias.
Vamos acompanhá-lo em seu roteiro.

Diplomata americano George F. Kennan
Diplomata americano George F. Kennan

A Cidade do México incomodou-lhe pela altitude, além de ter-lhe parecido “violenta” e “explosiva”, e com atividade noturna sufocante e ameaçadora.

Caracas, por sua vez, espremida entre montanhas, apresentava ruidosos congestionamentos, “preços incrivelmente altos”, como sua “febril economia debochada pelo dinheiro do petróleo”, suas mansões particulares e “grotesca” urbanização.

O Rio de Janeiro lhe pareceu “repulsivo” com seu trânsito barulhento e competitivo, e seus “inacreditáveis contrastes entre luxo e miséria”. Sua estadia ali foi desagradável, pois, a “máquina de propaganda soviética” atuou firmemente nos muros pintados com “Fora Kennan” e “Kennan go home”, e no seu enterro simbólico. Não teve condições de uma visita “normal” à cidade.

Em São Paulo foi cercado de forte aparato de segurança.

A proibição de divulgação do seu relatório nos escaninhos do governo americano, Kennan atribui às passagens que tratavam a “trágica natureza da civilização humana em todos os países ao nosso sul” (cf. v. l, p. 400).

KENNAN COM A PALAVRA:

“Não acho provável que haja outra região na terra onde a natureza e o comportamento humano, tenham-se combinado para produzir uma base mais desditosa e desalentadora para a conduta da vida humana do que a América Latina”.

Impressiona, para o incomodado viajante, o fato de que a América do Sul seja o “contrário” do continente norte-americano, “do ponto de vista de seus méritos como habitat humano”.

KENNAN APONTA AS DIFERENÇAS.

A América do Norte é longa e larga nas regiões temperadas, que seriam “mais adequadas à vida humana”. “A América do Sul, por outro lado, é vasta e larga nas porções perto do equador, menos adequada à habitação, e é precisamente na zona temperada que o continente vai-se estreitando até o extremo meridional, cortando de modo fatídico e abrupto as possibilidades de um desenvolvimento vigoroso e alentador da sociedade humana”.

(PROSSEGUE)

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