Hoje tem marmelada?
Tem, sim sinhô.
Hoje tem goiabada?
Tem, sim sinhô.
Por Eloi Zanetti
Fui à cidade Delfim Moreira – MG buscar o amigo Flávio Zanette e levá-lo ao Parque Estadual da Serra do Papagaio para conhecer os extensos pinheirais da região. Ele pesquisa araucárias há 36 anos, mas isso é outra história – contarei mais tarde. O importante é a descoberta nostálgica que fiz: Delfim Moreira foi sede das famosas marcas Marmeladas Colombo, CICA e Peixe. A memória correu rápida – quem da minha idade (74) nunca levou na merenda escolar pão com marmelada ou goiabada da Colombo ou se banqueteou após o almoço de domingo com uma dobradinha – marmelada com queijo prato ou mineiro?
Ao ver o antigo prédio da fábrica no belo estilo art-deco recordei-me do leve sabor meio adocicado, meio ácido da marmelada Colombo. A geleia vinha embalada em graciosas latas redondas, retangulares ou em caixinhas de madeira balsa. Também eram servidas no formato que hoje se chama combo – metade marmelada, metade goiabada ou outra fruta, dependia da estação. Era um prazer quando entrava em nossa casa uma dessas latas que depois de vazias serviam para disponibilizar água para cães, gatos e até passarinhos.
Famosa durante décadas, a marmelada Colombo foi o doce mais popular do Brasil, cujo reinado começou em 1905 e terminou por volta dos anos 70. Durou enquanto havia frutos, cujas árvores, dizem, foram atacadas por uma praga violenta que rapidamente inviabilizou a produção em escala industrial e econômica da geleia.
A mim, restou a lembrança do sabor, do visual da lata e a musiquinha popular que minha mãe cantarolava: hoje tem marmelada? Tem sim sinhô! Hoje tem goiabada? Tem sim sinhô. E o palhaço o que é? É ladrão de muié. Ficou também a lembrança do tempo em que as crianças podiam ser “educadas” por suas travessuras com castigos físicos – as famosas varas de marmelo, cuja evocação do nome pelos pais já nos colocavam em ordem.
Apesar de nostálgicos e tristes gosto de observar velhos prédios e casas abandonadas. Meu espirito viaja em especulação: Quem viveu ali? Quais dramas se passaram em suas dependências? Para onde foram seus moradores, que histórias poderiam nos contar?
E La nave và.