A reportagem foi publicada pelo site espanhol Religión Digital, 10-12-2014.
A tradução é de André Langer, via IHU On-Line:
O historiador e biógrafo de papas Andrea Riccardi considera que o Papa Francisco “encarna o sonho de reconciliação, não aceita uma Igreja que se resigna a ser uma minoria, quer uma comunidade de pessoas”, e reconhece: o atual papa tem “muita oposição, dentro e fora da cúria, e o sabe”.
Fundador da Comunidade de Santo Egídio e ex-ministro italiano, Riccardi fez o pronunciamento na última quarta-feira (10) na conferência “Uma inadiável renovação eclesial”, com a qual abriu o “3º Simpósio Internacional sobre o Concílio Vaticano II: a Igreja, mistério de comunhão e missão”, organizado pela Faculdade de Teologia da Catalunha, em Barcelona, na Espanha.
Para este especialista na história da Igreja Católica nos séculos 19 e 20, a 50 anos do término do Vaticano II (1962-1965) pode-se afirmar que sem esse concílio “a Igreja teria naufragado e seria uma pequena comunidade com um grande passado”, mas que seu grande erro teria sido se apresentar como “o partido dos valores tradicionais, quando é a tradição da esperança”.
2 – DESAFIO DE SER “IGREJA-POVO”
Andrea Riccardi também destaca que a Igreja não é tão forte como era na década de 1960, com mais de um milhão de religiosos consagrados, e o mundo também mudou. E disse que “aceitar o desafio de ser Igreja-Povo” é para ela “questão de vida ou morte”.
O especialista indicou que agora a Igreja é “frágil” e “insignificante” e é obrigada a enfrentar a globalização que, na sua opinião, é a que induz aos fundamentalismos, porque “nasce por estar sem raízes”.
Ele assinala que a encíclica papal “Evangelli Gaudium” dedica um capítulo à “renovação da Igreja”, no qual Francisco diz: “Sonho com uma opção missionária que pode transformar tudo…”.
3 – BIÓGRAFO E AMIGO DOS PAPAS
O professor Riccardi foi amigo pessoal dos últimos papas e autor do livro “A surpresa do Papa Francisco” (em italiano), no qual aborda as ideias-força do presente pontificado e o projeto eclesial que há por trás da figura do papa. “Com Francisco, a palavra ‘povo’ volta novamente a fluir em nosso idioma: o Povo de Deus, que não tem limites marcados”, destaca Riccardi, que enfatiza o compromisso comunitário pedido por Jorge Mario Bergoglio.
Neste sentido, o especialista considera que Francisco “não é um Papa liberal que sucedeu a um Papa tradicional”, porque “conservadores e liberais são categorias equivocadas na vida da Igreja”.
Em encontro com jornalistas, Riccardi disse estar convencido de que, graças “à sua grande aliança com o povo”, o Papa Francisco conseguirá uma renovação profunda da Igreja que passa por um processo para acabar com a “subcristandade clerical”.