O Papa Francisco está envolvido num lento porém determinado processo de reconstrução do Colégio Cardinalício e renovação dos eleitores que irão escolher o seu sucessor. O objetivo é aumentar a universalidade deste grupo afirmando as igrejas das periferias, corrigir os atuais desequilíbrios e garantir que haja uma variedade de candidatos que possam sucedê-lo no próximo conclave.
A reportagem é de Gerard O’Connell, publicada pela revista America, 02-02-2015.
Ele está remodelando o Colégio por meio de passos cuidadosamente pensados, mas ele pode precisar aumentar o número total de eleitores papais se quiser alcançar todas as suas metas em cinco anos.
Por um lado, ele está se afastando, lenta mas seguramente, do eurocentrismo que tem sido a principal característica do Colégio Cardinalício durante séculos; aqui os italianos foram sempre o bloco esmagadoramente majoritário.
Ele está fazendo este afastamento de várias maneiras. Na Itália, por exemplo, ele rompeu com o sistema carreirista e da tradição não escrita segundo a qual uma nomeação para uma dada Sé importante automaticamente levava o solidéu junto. Assim, ele não fez cardeais o patriarca de Veneza ou o arcebispo de Turim, mas deu o “chapéu vermelho” para os bispos das dioceses de Perugia, Ancona e Agrigento.
Além do mais, ele está procurando reduzir o número de solidéus na Europa colocando o Velho Continente (excluindo a Itália) em pé de igualdade com a Ásia e a África; foi o que buscou fazer com os consistórios de 2014 e 2015.
Ele também está procurando corrigir o desequilíbrio no número de cardeais eleitores dos EUA, que se acumulou ao longo dos últimos 50 anos. Esta meta é mais fácil de ser atingida nos próximos três anos. Hoje, os Estados Unidos têm 11 eleitores, enquanto que o Brasil, o México e as Filipinas têm bem menos cardeais, embora contam com muito mais católicos. Francisco poderia diminuir o número de eleitores dos EUA para menos de dez neste período de tempo criando menos cardeais americanos, na medida em que os atuais perdem o direito a voto por motivos de idade.
O Papa Francisco está reduzindo drasticamente o número de cardeais na Cúria Romana. No passado eles tiveram uma enorme influência nos conclaves.
Hoje, contam com cerca de 25% dos eleitores. Mas como ele indicou em entrevista, dezembro passado, a Elisabetta Piqué (minha esposa) para o jornal La Nación, com a reforma da Cúria, somente os chefes das congregações serão cardeais. Isto reduziria o número deles significativamente.
Por outro lado, este papa sabe o que significa estar na periferia. Ele está ciente de que muitas igrejas e líderes eclesiais que vivem nas periferias se encontram, geralmente, em grande pobreza ou em situações de conflito. Estas igrejas até o momento não importavam muito quando se tratava de tomar decisões em Roma. Ele quer afirmar a cidadania plena delas na Igreja. Dessa forma, nos consistórios de 2014 e 2014 ele nomeou solidéus a prelados de Burkina Faso, Haiti, Nicarágua, Panamá, Costa do Marfim, Cabo Verde, Tonga e Mianmar.
Acima de tudo, no entanto, Francisco está olhando atenciosamente para o perfil pastoral daquele a quem ele dá o papel de cardeal. Na Itália, por exemplo, nos consistórios de 2014 e 2015 ele escolheu, cuidadosamente, pastores corajosos, mente aberta, homens humildes e de oração com um estilo de vida simples, não carreiristas nem ideólogos, pastores comprometidos com a cultura do encontro, não homens de confronto. A identidade destes e dos futuros cardeais no atual pontificado pode ser encontrada no documento programático do papa argentino: “A Alegria do Evangelho”, e nas falas que ele fez aos núncios (em junho de 2013) e à Congregação para os Bispos (em fevereiro de 2014).
A partir do consistório de 2015 haverá 125 cardeais eleitores, 31 deles criados pelo Papa Francisco, divididos assim: 57 europeus (incluindo 26 italianos), 15 africanos, 14 asiáticos, 15 norte-americanos (Canadá 4, EUA 11), 22 das Américas Central e Sul (incluindo o México), 2 da Oceania (Austrália e Nova Zelândia).
(Fonte: IHU Notícias)