Por João José Werzbitzki (*)
Na minha opinião, Felipão não é o único culpado das derrotas brasileiras.
Faltou apoio psicológico ao time, desde bem antes da Copa – só recorreram à psicóloga que atende à CBF depois da partida com o México, quando o equilíbrio emocional estava em frangalhos e era perceptível. E quando pediram ajuda psicológica já era tarde demais.
Contra a Alemanha, houve pânico em campo. Só isso explica o “apagão”, que não foi apagão, foi desorganização causada pela sequência de gols levados, com falhas de toda a defesa e dos volantes. Houve falhas de marcação, houve vontade de resolver tudo sozinho, houve erros de passes e perdas de bola inacreditáveis. Penso que com 5×0 a Alemanha tirou o pé e poupou o Brasil de uma derrota ainda mais fragorosa e humilhante.
Culpa só do técnico? Penso que não. Naqueles 6 minutos nada poderia ser feito. Nem daria tempo. Depois do intervalo, ele até que organizou o time, mas a Alemanha já havia desacelerado, por respeito e por pena do pentacampeão mundial.
Contra a Holanda, a falha do David Luiz na primeira bola, lá no meio do campo, ocasionou a falta fora da área do Tiago Silva no Robben – que o árbitro marcou como pênalti. Era o primeiro minuto da partida, o gol e o pânico voltou, com o pavor de um novo vexame – se bem que com menor intensidade. Alguns jogadores voltaram a tentar resolver a partida sozinhos o que gerou novos erros. E o segundo gol veio em nova falha do ótimo e voluntarioso David Luiz, que ao invés de cabecear aquela bola pela linha de fundo, colocou-a de volta para o meio da área, onde o holandês só teve o trabalho de matar a bola e emendar para o gol, em bola indefensável. O terceiro gol, no final, foi novamente fruto de erro de marcação (parecia o jogo com a Alemanha, de novo).
Erros? Há muita gente com erros a serem apontados – não só o Felipão.
Desde o comando da CBF ao comando da delegação, ninguém antes percebeu que emocionalmente vários jogadores não estavam 100%? Desde a escolha do CT, sem privacidade, ninguém antes havia percebido isso? Não houve como treinar secretamente e dia algum, no CT da CBF (que gastou uma fortuna nele).
Houve erros de convocação, claro! Fred e Jô não poderiam ter sido convidados para a seleção. Não jogaram absolutamente nada. Os laterais, todos, também não estavam 100% e comprometeram o miolo da zaga – se bem que Tiago Silva foi considerado como um dos melhores zagueiros e integra a seleção da Copa, com o incansável Oscar (que jogou sozinho na meia cancha, nesta Copa toda).
Dos volantes, Fernandinho, mesmo falhando, deu mais vigor à meia. Luis Gustavo e Paulinho não foram os mesmos da Copa das Confederações. Dos armadores, só o Oscar jogou. E mesmo o Neymar não jogou tudo, em todas as partidas e esteve apagado contra a Colômbia, quando foi criminosamente machucado pelas costas e nas costas pelo Zuñiga.
Felipão, como o técnico, acabará pagando o pato sozinho, quando Parreira foi infeliz até nas declarações, a preparação física deixou a desejar notadamente e a CBF se exime de qualquer culpa, como sempre – e segue impune ajudando a apodrecer nosso futebol (podridão que começa nos clubes, onde dirigentes gastam muito mais do que as agremiações conseguem arrecadar, impunemente, faz muito, muito tempo… por isso estão todos tragicamente endividados).
Reformar o futebol brasileiro é preciso – sem qualquer intervenção do Governo (como os petistas já ameaçaram). A reforma começa nos clubes da primeira e segunda divisão (e deve prosseguir em todas as divisões, clubes da várzea, escolas, etc.).
E isso iria requerer uma reunião enorme de ideias, com as melhores cabeças do Brasil e do exterior, em administração, técnica, psicologia do esporte, preparação física e marketing do futebol (inclusive com divisão diferente da verba da Globo – com premiação aos 4 primeiros colocados, mas com divisão igualitária entre todos os clubes de cada divisão… para não criar o problema que existe na Espanha, onde praticamente só dois ou três clubes conseguem ser competitivos… Não é justo Flamengo e Corinthians receberam tanto a mais do que a maioria dos competidores da primeirona).
Longe de mim ter soluções prontas para o futebol brasileiro, mas por certo não será buscar copiar os alemães, que tem um país, um povo, crianças e jovens, educação, alimentação, saúde e desenvolvimento bem diferente do que temos no Brasil.
Só espero que a CBF (sim, infelizmente cabe a ela iniciar o debate) não espere a próxima Copa chegar, para iniciar este processo de reforma (que principia na forma de escolher os dirigentes da entidade, das federações e dos clubes, onde está tudo – ou quase – dominado e contaminado por incompetentes e/ou corruptos, quando não as duas coisas).
E se precisar reformar a Lei Pelé, que criou e fortaleceu um bando de empresários sem outro interesse, que não seja seu próprio ganho, nem que para isso tenham que corromper crianças, jovens e seus pais em troca de uma assinatura num contrato, que se reforme. Logo. Antes que a seleção do Brasil consiga nem se classificar para a próxima Copa.
(*) João José Werzbitzki (JJ), publicitário, jornalista, escritor, conferencista e blogueiro.