domingo, 16 fevereiro, 2025
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Opinião de Valor: astúcia política de Marina é colocada à prova (parte final)

Seus adversários políticos a acusam de falta de experiência para governar o país e de sentir-se “predestinada”. Dizem que é “uma pessoa dócil com mãos de ferro”, inflexível em suas decisões. Outro ambientalista, Dener Giovanni, chegou a pintar Marina como um personagem que se move entre “o lavar as mãos” e o “silêncio covarde das convicções”. A analista política Dora Kramer afirma, entretanto, que a candidata socialista é uma política intransigente mas incapaz de “golpes baixos” e que tem como lema que na política, como na vida, “nem tudo vale”.

Marina, que se casou duas vezes, é mãe de quatro filhos. Difícil poder definir e enquadrar um personagem tão complexo, multifacetado, enigmático e, ao mesmo tempo, de forte magnetismo e rigor ético que a torna simpática para os mais jovens e os anti-política. Tirou seu lema de vida pública e privada dos evangélicos que a pedem para ser, diz, “sensível como uma pomba e astuta como uma serpente”. Será correto dizer que na política é mais serpente que pomba?

Seu trabalho é muito mais reconhecido e admirado fora do Brasil do que em casa. Em 1996, aos 38 anos, recebeu nos Estados Unidos o Prêmio Goldam de Meio Ambiente para a América Latina e Caribe. Em 2007, a ONU lhe concedeu o Champions of the Earth, o maior galardão da instituição no campo ambiental. Nesse mesmo ano, o jornal britânico The Guardian colocou a senadora Marina Silva como uma das 50 pessoas do mundo capazes de ajudar a salvar o Planeta. Nas Olimpíadas de Londres em 2012, foi convidada na inauguração a levar a bandeira dos jogos junto com o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon e vários prêmios Nobel. Ela costuma lembrar a citação evangélica de que “ninguém é profeta em sua terra”.

Seu último grande desafio será agora enfrentar nas urnas em outubro a poderosa candidata e presidenta, Dilma Rousseff, mais agnóstica do que crente, mas que apenas alguns dias atrás leu textos bíblicos diante de 5.000 pastores evangélicos para quem lhes pediu a benção. Já há quem profetize entre ambas uma nova luta bíblica no estilo do pequeno Davi contra o gigante Golias. No Brasil, como em toda a América Latina, ninguém parece escapar, como Miguel Ángel Bastenier bem escreveu neste jornal, ao inelutável destino dos deuses.

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