Carlos Alberto Pessoa
Sem namorada a bordo, à vista, sequer a prazo, decido dar longa caminhada pela cálida tarde de domingo; boto uma calça, calço uma bota (A Toreli, obrigado), saio. Sem rumo, destino, norte, velocidade cruzeiro, + ou – seis quilômetros por hora.
E estava assim como Inês posto em sossego, eis senão quando tropeço numa das catedrais de consumo da city que ri, cresce, aparece, desaparece; me refiro ao Palladiun, bandas do Birigui. Ao Palladiun que tem desenho inspirado no Chile ou no bassê velho de guerra; comprido&estreito; entrei. (Relaxe; não contarei miudamente minhas peripécias; me concentrarei numa só; espero que seja indolor.)
Velho míope, as óticas sempre atraem minha distraída atenção; parei na frente de uma delas, a observar a estonteante variedade de modelos, formas, aros, hastes, lentes, preços, formas de pagamento, prazos, juros, ofertas, pechinchas, lançamentos, liquidações. Há de tudo pra todos! Idades, sexos, nacionalidades, naturalidades, estados civis, profissões, ideologias, bolsos, bolsas – das lindas Vuittons às bolsas famílias. Vi óculos dos tempos da vovó e dos tempos futuros. Uma beleza.
De repente, não mais que de repente, como no poema do Vinícius, tive o que na minha adolescência iratiense chamava-se frouxo de riso; sim, tive um frouxo de riso.
– A pensar no que?
– Na soviética gosplan a fixar os preços dos modelos! Ou numa junta cubana de planejamento a ditar os preços de todos os modelos!
– Impossível, não? Simplesmente, impossível. Ou cômico. Ou o samba do planejador doido. (Dando de barato que o comunismo, que o socialismo realmente existente, de qualquer latitude, fosse capaz de produzir tamanha variedade de modelos! A exagerar um pouco é possível dizer que a economia de comando seria capaz de produzir… monóculos, nada mais que monóculos, somente monóculos.)
– Entre outras razões esta também contribuiu não pouco para o maior fracasso de engenharia social da história do bicho homem – 100 milhões de cadáveres no débito dos comunistas. O novo homem não passava de louco genocida. Vade retro.