
Para quem ainda tem alguma dúvida de que liberdade de imprensa e democracia são inseparáveis, recomendo o filme “O Mensageiro” (Kill the Messanger), em exibição na cidade.
Trata da obstinação de um jornalista profissional, Gary Stephen Webb, de um pequeno jornal regional da Califórnia, nos anos 1990, o San Jose Telegraph, que desvenda um caso escabroso de tráfico de drogas. Pasmem: o tráfico era promovido pela CIA, que vendia cocaína da Nicarágua nos Estados Unidos para assim financiar os “Contras”, movimento paramilitar de direita.
2 – LIÇÃO INVESTIGATIVA
Para mim, essa história real pungente, centrada na luta de um repórter com plena certeza da ação criminosa patrocinada pelo Estado norte-americano, é uma lição de Jornalismo. E pedagógica, por mostrar que só uma imprensa livre pode escancarar as entranhas do poder. No caso, do poder de uma democracia sólida, como a americana, que foi, no entanto, manipulada pelo aparelho da CIA.
Lembra, e muito, o papel dos meios de comunicação brasileiros no desvendar e detalhar o escândalo da Petrobrás. Ou de quando a imprensa brasileira se opôs a violações dos direitos humanos praticados por setores militares pós 1964.
3 – AGORA, A TURQUIA
Aos estudantes de jornalismo e jornalistas, especialmente, só posso garantir que a fita é imperdível. E vem a propósito desses dias, quando a “democrática”, Turquia, por exemplo, prende dirigentes e repórteres de jornais pelo o ‘crime’ de denunciarem crimes do Estado.
E que dizer da Rússia, Cuba e Venezuela? Sem mencionar os países árabes.
O escândalo do tráfico de drogas feito pela CIA tinha que ficar encoberto. Esse era o plano. Mas quando desvendado pelo repórter Gary Webb, o profissional passou a sofrer toda sorte de pressões, com campanhas para desacreditá-lo. Algumas dessas ações da CIA – de desestruturação do jornalista – tiveram o apoio (absurdo) de grandes jornais americanos. Um deles, o Washington Post.
4 – OS FAVORES DE MÔNICA
No fim, a direção da CIA, diante dos fatos irrefutáveis, admitiu seu erro e o diretor da agência demitiu-se.
A grande bomba jornalística não teve maior repercussão, na época, porque transcorreu – repito – no mesmo período em que os meios de comunicação se ocupavam do escândalo Mônica Levinsky.
As manobras e favores sexuais da estagiária Mônica a Clinton tomaram quase todas as atenções do mundo daqueles dias, diminuindo o impacto do crime praticado pelo governo norte-americano.
Deprimido, trabalhando como “free lance”, embora tenha recebido prêmios por suas reportagens, Gary Webb morreu em 2004. Causa oficial: suicídio.
Ou teria sido “suicidado”?
5 – JORNALISMO PROFISSIONAL
- Há muitas grandes lições que a fita, toda baseada em fatos reais, pode ainda nos passar.
Uma delas, a de que não há rede social ou confraria de amigos pela web que possa substituir o exercício do jornalismo profissional, especialmente pela cadeia de responsabilidade que implica, além da autoridade que o define. Sem contar que jornalista é um ser treinado em redações e entre companheiros para bem apurar fatos e exercer jornalismo investigativo. Não basta ter diploma de jornalista.
- O filme tem a direção de Michael Cuesta, com Jeremy Renner, Robert Patrick e Jena Sims.