sábado, 14 dezembro, 2024
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Na toca do Coelho: Moreno sentimental

Antonio Carlos Costa Coelho
Antonio Carlos Costa Coelho

(espaço de Antonio Carlos da Costa Coelho)

Era um tipo espalhafatoso. Ria alto, usava camisas coloridas abertas no peito, mangas arregaçadas, corrente grossa de ouro e, é claro, óculos escuros na testa – atestados de um cafajeste profissional. Era o retrato da malandragem consagrada pelo cinema nacional dos anos 60 – 70. Os admiradores o cercavam na porta do café e não eram poucos os que gostavam das suas bazofias. Contava como lidava com ladrões, prostitutas e cafetões – com quem resolvia as questões no tapa e no achaque. Era o retrato do que não prestava na polícia.

Dos ladrões tomava ou encomendava as armas. Fazia favores aos amigos, o que lhe conferia a imagem de um homem com poder e, igualmente, generoso.

Era reconhecido pelos amigos e admiradores por “moreno sentimental”.

bezerra_da_silva_stencil_byPrender, ameaçar, achacar eram itens de um vasto repertório de serviços que o malandro oferecia, se necessário, aos amigos do café da XV.

Vendia armas, mas só para conhecidos. Atendia a freguesia no fundo dos bares, onde não chamasse muito a atenção. Depois de muita encenação e valorização da mercadoria abria a pasta, mostrava uma pistola automática ou um 38. Quando o interessado ameaçava tocá-lo, impedia-o e dizia: – opa, opa… vá lavar as mãos! Não pense que vai pegar nesta joia com as essas mãos sujas.

O malandro concluía o negócio. Dinheiro no bolso. O comprador escondia a arma sob o paletó enquanto o moreno recomendava: “não andar por ai dando moleza pra malaco”. Ainda, com o dedo em riste, alertava: “cuidado rapaz, não vá fazer bobagem!”

Mas, o comprador não ficava muito tempo com a arma. Logo, ao virar a esquina, era abordado por um policial – “aí, cidadão, o que está levando debaixo do paletó? Deixa ver… ah! cadê o porte? Não tem… vai me acompanhar até a delegacia…”

O cidadão perdia a arma. Trocava a ida à delegacia por uns mil cruzeiros.

A “joia” voltaria a ser vendida no fundo de algum bar para outro trouxa.

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