sexta-feira, 11 outubro, 2024
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Museka, 23, e suas lutas na África e no Afeganistão

Na semana passada, investigações tornadas públicas, feitas pela ONU, indicaram que tropas das Nações Unidas, com bandeira de França, praticaram abusos sexuais contra meninos e meninas na África. Essas tropas estavam em missão humanitária na República Centro Africana, entre 2012 e 2013.

Os soldados, conforme noticiário internacional, estupravam as crianças, famintas, dando-lhes comida e, às vezes, dinheiro em troca de sexo. Algumas crianças tinham 9 anos…

Rafael Museka: soldado de missões difíceis.
Rafael Museka: soldado de missões difíceis.

Esse assunto, que terá desdobramentos internacionais, por revelar crimes hediondos, não deve ser desconhecido do paranaense Rafael Museka, 23 anos, ex-legionário da Legião Estrangeira da França. Ele será um dos personagens – no espaço Nova Geração – do meu livro Vozes do Paraná 7, a ser lançado em noite de autógrafos em 10 de setembro.

2 – GRANDE DESAFIO

Museka talvez até pudesse discorrer sobre esses abusos, pois admite-se, alguma vez deve ter tido conhecimento deles na África. Mas nada fala, está preso à Legião por juramento, obrigação de respeitar um código de honra da instituição. Não abordar mazelas que possam comprometer a instituição é sua obrigação. Embora, é certo, os casos denunciados pela ONU não envolvam a Legião. Mas a simples associação entre os crimes e legionários poderia …

Rafael, hoje motorista de taxi em Curitiba, é dono de uma história de vida surpreendente e absolutamente incomum para um brasileiro de sua idade. Ou para qualquer jovem de sua geração.

Museka escolheu tornar-se legionário em 2012, quando ainda servia no Quartel General da Quinta Região, no Pinheirinho, em Curitiba.

Ao deixar a farda, desfez-se de poupança, de uma moto e “de uma vaca que o meu avô me havia dado”. Fez dinheiro, comprou passagem para Paris onde chegou em 2013, sem falar francês, apenas com a curiosidade pelo corpo de soldados aventureiros, criado no século 19 para guerrear pela França.

Em Paris submeteu-se às duras provas para admissão a esse corpo de elite, com legionários de 100 nacionalidades, que recebe as mais difíceis missões para executar, geralmente como precursora do exército francês.

3 – DURAS PROVAS

Passou por todos os testes psicológicos, físicos, de inteligência e acabou fazendo uma carreira meteórica. Em um ano foi promovido a cabo, tendo servido em missões perigosas no Afeganistão, na Argélia, no Iraque, no Oriente Médio, quase sempre em apoio às tropas francesas. “No Afeganistão, num dado momento, éramos 7 mil legionários enfrentando os guerrilheiros”, explica. Foi ali que viu tombar Gonzalez, um argentino, seu amigo e de sua idade, morto por um tiro de fuzil na cabeça. Um trauma que guarda até hoje.

Tão importante quanto os códigos de honra da Legião Estrangeira (cujas histórias fantásticas alguns filmes de minha infância encarregaram-se de mostrar, romanceadas), foram as batalhas “no escuro” que Museka enfrentou.

Numa delas, com seus companheiros, teve de tomar um prédio, fortim de guerrilheiros. Não dá detalhes, sabe-se que, apenas, “foi na África”, assim como também esteve entre os legionários que tentaram resgatar 3 jornalistas em mãos de terroristas que os tinham sequestrado. Só conseguiram salvar a mulher jornalista.

4 – RESISTÊNCIA

Esses são momentos da vida surpreendente desse jovem que é um “paredão” de resistência física. É capaz, por exemplo, de fazer flexões apoiado em apenas 2 dedos de cada mão.

No tempo em que serviu no Batalhão de Paraquedistas na Ilha de Calvi, na Córsega, uma tropa de elite, Museka ganhava 1.800 euros/mensais.

Como teve de voltar ao Brasil (motivos familiares) no final do ano passado, pagou multa por descumprimento do contrato, o que levou boa parte de seu capital formado nas lutas.

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