Por André Nunes – O 33º Festival de Curitiba foi marcado por muitas atrações e emoções ao longo de seus 14 dias de duração. Mas é inegável que as atuações dos atores e atrizes deixam marcas no público, muitas vezes sendo lembradas anos depois. Não é raro que cada edição tenha um ou mais “espetáculos símbolo”, como os Bois de Parintins em 2024, e Ficções de Vera Holtz, em 2023.
Na Mostra Lucia Camargo do 33º Festival, que chegou ao fim neste domingo 6 de abril, foram muitas as atuações de destaque. O Mural do Paraná elenca a seguir as mais marcantes na opinião de seu editor e de colegas jornalistas que cobriram o Festival:
Débora Falabella – Prima Facie

Vencedora do Prêmio Shell, Prêmio Arcanjo e Prêmio APCA, Débora Falabella arrebatou as 4.400 pessoas que lotaram as duas sessões de Prima Facie no Guairão. Sua atuação é rara de se testemunhar em atrizes de sua geração e com sua trajetória de teatro, cinema e televisão – algumas infelizmente mais interessadas em papéis que não saiam de suas zonas de conforto. Débora vai do humor e da leveza dos primeiros minutos em cena ao estupor, a incredulidade e o desgosto com a situação extrema enfrentada por sua personagem, numa abordagem necessária e terrivelmente atual.
Alexia Twister – Rei Lear

Mais uma protagonista premiada em cena no Festival, Alexia Twister levou o Prêmio Shell de Melhor Ator por sua performance como Rei Lear, personagem-título do drama shakesperiano que ganhou uma montagem fantástica da Cia Extemporanea, com nove drag queens. Foram duas sessões lotadas no Guairinha. Em uma roupagem de mama drag, o Lear de Alexia passa por todas as grandes emoções em cena, sem afetação nem exageros. Impacta, diverte e emociona na mesma medida. Menção honrosa ainda a DaCota Monteiro, que vive o Conde de Gloucester (Dona Glau), indicada ao Prêmio Prio de Humor.
Kauê Persona – Cabaré Haikai

Cabaré Haikai levou aos palcos do Teatro Zé Maria Santos poemas e músicas da vasta produção de Paulo Leminski. Em meio a um elenco afiado (e afinado), a atuação de Kauê Persona se destaca, em especial na sequência de monólogo em que emula uma entrevista do poeta polaco, nosso querido “bandido que sabia latim”. Bravo!
Renata Sorrah – Ao vivo (dentro da cabeça de alguém)

Renata Sorrah é uma força da natureza. Sua participação mais recente no Festival havia sido em Esta Criança, em 2013, também com a Companhia Brasileira. Desta vez, Ao vivo (dentro da cabeça de alguém) bateu recorde de ingressos esgotados no primeiro dia de bilheterias. Sua atuação potente e bom humor encantaram o público nas duas sessões do Teatro da Reitoria. Menção honrosa a Rafael Bacelar, que também rouba a cena em Ao vivo.
Flavio Bauraqui – Ray, você não me conhece

Ray, você não me conhece reúne um elenco 100% negro para contar a história do consagrado Ray Charles. Foram duas apresentações no Guairão praticamente lotado. Responsável por dar vida à versão idosa e “fantasma” do cantor, Flavio Bauraqui impressiona com a fisicalidade de seu Ray, em meio às controvérsias da vida pessoal e profissional. Igualmente brilhantes as atrizes e cantoras Leticia Soares, Mila Santana, Lu Vieira e Roberta Ribeiro, os colegas masculinos de elenco (Sidney Santiago Kuanda, César Mello, Abrahão Costa e Luiz Otavio) e o pequeno Caio Santos.
Jéssica Teixeira – Monga

Monga não é um espetáculo fácil. A história de abusos vividos ao longo de dois séculos pela mexicana Julia Prastana – a “mulher macaco” que nem morta conheceu a paz – é o ponto de partida da peça interpretada e dirigida pela cearense Jéssica Teixeira, que venceu o Prêmio Shell pelo trabalho. A atuação conquistou o público que encheu o Teatro Paiol nas duas sessões do Festival.
Fernando Eiras e Emílio de Mello – In On It

15 anos depois, In On It voltou à Mostra do Festival de Curitiba. Marcada essencialmente pela dinâmica e cumplicidade entre os muitos personagens vididos por Fernando Eiras e Emilio de Mello, o espetáculo conta ainda com uma dose de improviso e interações com a plateia, que saiu encantada das suas apresentações no Teatro da Reitoria.
Simone Spoladore – Daqui Ninguém Sai

A obra de Dalton Trevisan ganhou os palcos do Festival com a estreia de Daqui Ninguém Sai. Dentre o competente elenco dirigido pela grande Nena Inoue, chamou atenção a atuação de Simone Spoladore. Menção honrosa a Carol Mascarenhas, Sidy Correa e à jovem Lais Cristina, em seu segundo ano na Mostra Lucia Camargo, depois de atuar no musical O Fantasma de Friedrich em 2024.
Gregório Duvivier – O Céu da Língua

Encarar três sessões de Guairão lotado é para poucos. Some-se a isso um espetáculo solo – acompanhado de uma projecionista e um músico em cena – com texto saboroso sobre as variações e possibilidades da língua portuguesa. Gregório Duvivier não só dá conta da tarefa, como surpreende o público que assistiu O Céu da Língua. Bravo!