Por Thiago Lucas e Sandro Moser – Duzentas mil pessoas assistiram às peças das mostras e participaram das demais ações do Festival de Curitiba seja comprando ingressos, pelo sistema ‘Pague o Quanto Vale’, via vale ingressos ou nas mais de 100 atrações gratuitas programadas, dentre espetáculos, cursos, oficinas, palestras, lançamento de livros e muito mais. Todos os 23 espetáculos da Mostra Lucia Camargo tiveram ingressos esgotados, algo inédito na história do Festival iniciada em 1992.
A 32ª edição superou expectativas de quem passou pelas mais de 300 atrações, seja nos 50 espaços reservados para o evento ou naquelas espalhadas pela capital paranaense durante os 14 dias de duração (de 25 de março a 7 de abril). Cidades da região metropolitana como Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul e Pinhais também foram contempladas com atividades.
Para a diretora do Festival, Fabíula Passini, esses números são muito importantes, mas há outro dado ainda mais essencial. “Estes números são sempre muito expressivos. Isso nos deixa sempre muito felizes e mostram que conseguimos atingir o que planejamos em termos de presença de público. Mas o que me deixa ainda mais feliz é a reação deste público de Curitiba, que me parece estar mudando”, disse. “No final de alguns espetáculos, as pessoas aplaudiam sem parar durante minutos e alguns produtores até tinham que pedir para o pessoal sair. Assim, fica aqui um agradecimento do Festival ao público e a essa curadoria que tenho muito carinho”, completou a diretora durante a entrevista coletiva no Hotel Mabu neste sábado (6).
Fabíula também destacou o fato do Festival ter recebido espetáculos oriundos de cinco regiões do Brasil e a participação de companhias de teatro da Argentina, Peru, Chile e Bolívia, mas especialmente a criação inédita do ‘Eixo Amazônico’, que literalmente norteou o trabalho da curadoria quanto à escolha das obras da edição, selecionadas por representar a cultura popular, temáticas referentes ao bioma e aos povos originários. Dentre os musicais, a chegada dos bois de Parintins arrebatou o público local com os ritmos populares daquela região do Amazonas. Essa foi a primeira vez que trouxeram o show “Caprichoso e Garantido – O Duelo da Amazônia” para o Sul do país.
“Foi maravilhoso. Muito melhor do que o que a gente imaginava. A gente sabia que receber eles ia ser importante para a gente. Mas eu fiquei muito feliz de ver como para eles foi muito importante estarem aqui. Graças à indicação da curadoria, a gente teve esse insight maravilhoso, e a gente correu atrás. Esse é um papel importante que um festival se preza fazer, e eu acho, eu estou certa, na verdade, que a gente fez muito bem esse papel. Muito bem.
“Nosso país possui um repertório lindo, poderoso, em suas mais distintas expressões artísticas”, diz Fabíula Passini, diretora do Festival de Curitiba. Ela também comenta a importância de fazer esse intercâmbio da cultura nacional. “É extremamente enriquecedor, porque essas manifestações também são nossas. E poder trazer essas referências para o Festival é fantástico, nos orgulha demais”, destaca.
Também dentre as novidades de 2024 estiveram a Mostra Surda de Teatro e a Temporada de Musicais. A primeira reforça o caráter inclusivo do evento “Festival Para Todos”, que apresentou sete obras com surdos como protagonistas e cerca de 30% dos espectadores eram pessoas não surdas.
A programação da Temporada de Musicais também reverenciou um dos maiores comunicadores brasileiros com o espetáculo “Silvio Santos Vem Aí” e as performances biográficas do astro “Ney Matogrosso – Homem com H” e da inigualável Carmen Miranda – “Carmen, a Grande e Pequena Notável”. O Risorama, mostra de humor em formato stand up comedy, completa 20 anos em 2024 e teve casa lotada nas oito sessões apresentadas durante a edição.
Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Curitiba, comenta os resultados da edição. Ele afirma que o evento continua relevante para as pessoas, os artistas e as instituições. “Mais uma vez o Festival foi para todos: envolvemos a sociedade, entendemos o momento atual, trouxemos tendências, entramos no cotidiano e nas conversas da cidade. Chegar à 32ª edições com esse vigor, força e jovialidade, acredito que é um diferencial”, comemora.
Na entrevista coletiva, Leandro destacou o patrocínio da Petrobras para as próximas três edições do evento. “Esse patrocínio da Petrobras não marca o festival inteiro. Mas ele dá uma garantia, uma tranquilidade para a gente poder buscar outros. E nos dá fôlego, antecedência para fazer um festival deste tamanho.”
Fomentando a economia criativa
Seguindo a dinâmica das edições anteriores, também há grande movimentação direta e indireta na economia da cidade. Aproximadamente, dois mil trabalhadores da cultura foram beneficiados com a contratação para trabalhar na edição, seja de maneira direta ou indireta nas atividades/ áreas que ele mobiliza.
Pelo 2º ano consecutivo foi realizada a Rodada de Conexões, uma iniciativa em parceria com o Sebrae/PR e que promove o encontro entre curadores, programadores de salas de teatro e de festivais de todo o Brasil, companhias de teatro independentes e artistas presentes no Fringe. Durante dois dias o encontro promoveu 480 oportunidades de negócios para companhias de teatro, o agendamento de mais de 50% de reuniões futuras entre os participantes e a expectativa real de gerar faturamento de 10 a 11 milhões de reais em novos negócios da cultura.
De forma inédita no Festival de Curitiba, o Interlocuções recebeu representantes do Ministério da Cultura e da Coordenação de Patrocínio Cultural da Petrobrás para apresentar detalhes do Programa Petrobras Cultural – Novos Eixos, lançado recentemente. A ideia foi dar a oportunidade dos mais de 120 presentes no encontro compreenderem as indicações do edital e tirarem suas dúvidas, estimulando assim a participação de mais iniciativas culturais no processo.