sábado, 5 outubro, 2024
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REPERCUTINDO: Morre Almir Feijó, olhar maior da crítica de cinema

Neste domingo, 6, morreu em Almirante Tamandaré, o jornalista e
publicitário Almir Feijó Junior, a grande referência da crítica de
cinema de Curitiba no século 20.  Ele morava no Nosso Lar, Casa de
Idosos, plenamente assistido pelo filho, Rodolpho Feijó, fruto de união
de Almir e  Marlene Zanini, ex-vereadora em Curitiba. Numa cerimônia
reservada à família, houve cremação do  seu  corpo, no Crematório
Vaticano.
Oportunamente, ampliaremos nosso olhar sobre o amigo desaparecido.

Voa, meu pai. Voa que o céu é teu.
Estivemos juntos até o fim. Agora chegou a hora de você descansar. Mais
um que este vírus maldito levou.
Desfaça estas mãos cruzadas, meu pai. Jogue fora este terno preto. Abra
os braços e voe bem alto. Agora você é poesia. Um filme do John Wayne,
uma sinfonia de Mahler, um haikai do Leminski, um quadro da Helena Wong,
um solo do Charlie Parker, um canto da Billie Holiday. Tudo aquilo que
você mais gostava. Eles estão todos lá estão te esperando.
Um dia a gente se reencontra, pai. Aí juntos, eu e você, nas crinas do
seu unicórnio, viajando entre as galáxias, cruzando oceanos de luz,
iremos visitar aquele lugar onde nascem as estrelas e que só você sabe
me mostrar.
Amor, amor, amor.
Rodolpho

R.I.P.  + Almir Feijó Júnior (1950-2021)

ALMIR  AJUDOU A CONSTRUIR NOSSA CURITIBA

Por José Maria Correa (*)
Soube hoje à tarde da morte do Almir Feijó pelo amigo e professor Aroldo
Murá.

Mais um domingo cinzento e enlutado nesse outono-inverno de
desesperanças.

Almir foi um dos meus mais amados amigos.
Desde a década de 70 quando  ele , todo entusiasmado, foi treinar judô e
Karatê em minha academia Budôkan.

Fomos inseparáveis durante décadas até quando a enfermidade que o
atingiu restringiu a convivência.

Bonito, culto e inteligente , era um galã que tinha uma bela voz que o
distinguia e que na juventude o tornou apresentador do Canal 12.

Dono de um dos melhores e mais criativos textos publicitários e
jornalísticos sempre despertou admiração em Curitiba , em São Paulo e
outros centros entre os mestres das letras.

Como todo gênio dava pouca ou secundária atenção ao aspecto empresarial
e prático da profissão onde lhe sobrava talento.

Era desapegado materialmente e assim foi por toda a vida , privilegiando
seguidas viagens pelo velho mundo que o inspiravam e onde visitava o
irmão e a família.

Foi notável e revolucionário nas muitas campanhas políticas que
coordenou .
Com argúcia e determinação ajudou a mudar a história de Curitiba e
do Paraná com governos mais progressistas e solidários.

Comigo sempre foi além de um amigo, extremamente generoso nas palavras e
aconselhamentos na conduta e imagem pública que eu deveria cultivar.

Do jeito que escrevia
conseguia dar sempre um sentido mais nobre e relevante em nossas lutas
que transformava em causas mais nobres.

Quando se propunha a defender um amigo sob ataques  era como um escudo e
uma muralha de coragem.

Lembro com imensas saudades de nossas noites de boêmia , cinema e
literatura nas mesas do coffe shop do antigo Hotel Colonial na rua
Comendador Araújo .

Era o território onde o Almir se divertia com os casos contados pelo seu
grande amigo Jamil Snege.

Criavam slogans em parcerias e jingles divertidos.

Seu livro Descríticas com comentários dos filmes que assistiu  e dos
quais conhecia detalhes como ninguém se tornou uma obra icônica para
cinéfilos.

De suas crônicas literárias  brotavam sonhos  oníricos e lânguidos
,descritos com romantismo e povoados por musas que idealizava.

Do casamento com a combativa amiga e vereadora Marlene Zanin nasceu
Rodolfo, o filho único e devotado

O maior orgulho e amor do Almir.
Um jovem que mescla as virtudes e a inteligência dos pais .

Almir viveu intensamente como escolheu, mas de certa forma tanto brilho
o consumiu também fragilizando a saúde, como ocorre com quem é dessa
natureza dos gênios.

Ficará nas minha melhores lembranças e nas minhas memórias mais
afetivas, nesse panteão que mantenho em meu peito cada vez mais pesado
de saudades e recordações.

De outras épocas e de outras vidas.
José Maria Correia.

(*) JOSÉ MARIA CORREA, autoridade em Curitiba, curitibano que conhece
sua cidade e sua gente.


UMA OBRA EM RESUMO

( Colaboração de  Dinah Pinheiro Ribas )
Almir Feijó Jr.  Iniciou como crítico de Cinema na década de 60, no
jornal  Estado do Paraná estimulado por Aramis Millarch. Logo passou a
fazer parte do Conselho de Cinema do mesmo jornal. Nos anos 1970
escreveu no Anexo, suplemento cultural do Diário do Paraná.
Na década de 1980 participou com críticas de cinema no Polo Cultural,
publicação dirigida por Reynaldo Jardim e nos Cadernos de Cinema,
publicação da Fundação do Cinema Brasileiro/Embrafilme. Na mesma década
escreveu na Voz do Paraná, Correio de Notícias, revista Quem e no
suplemento literário de O Estado de Minas Entre 1971 e 1975 foi redator
e apresentador do noticiário na TV Paranaense, Canal 12,  dirigido por
Luiz Geraldo Mazza. Trabalhou na assessoria de Imprensa do IPPUC e
Fundação Cultural.
Críticos que são referenciais  na sua formação: os americanos Andrew
Sarris e Pauline Koel e o brasileiro José Carlos Avelar.
Foi júri de premiação no II Festival de Filme Super 8 em Curitiba (1975)
e do Concurso de Roteiros  do VI Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba
em 2002.
No livro Descríticas, publicado em 2001, Almir reuniu seus principais
textos críticos do cinema mundial e nacional, cobrindo produções do
período de 1950 a 2000. Do cinema europeu, a Nouvelle Vague  (Godard),
cinema alemão (Wim Wenders), cinema americano Ford, Hitchcock, Orson
Welles, Kubrick, Coppola,Woody Allen,  Spielberg, Spike Lee, Tarantino e
Irmãos Cohen.
Filmes brasileiros analisados: O Grande Momento, de Roberto Santos. A
Falecida, de León Hirszman. Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo
Coutinho.  Ironweed, de Hector Babenco. Central do Brasil, de Walter
Salles. Incluiu os filmes de Sylvio Back : Auto Retrato de Bakun e Cruz
e Souza, O Poeta do Desterro .

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