Por Eloi Zanetti – Percebo, nas convenções empresariais, o esforço que fazem alguns diretores em tentar transmitir aos colaboradores as estratégias e os planos para o futuro. Exige-se compromisso, obediência plena, muitas vendas, dedicação e comprometimento eterno com a empresa. Discursos que caem na mesmice e na falsa motivação. As falas entram por um ouvido e saem pelo outro. A turma, que não é boba, diz internamente a si própria: “Ele não está falando comigo.” Escalões superiores não gostam de pedir opinião, escutar e compartilhar ideias. Normalmente, nessas reuniões, as fórmulas e ordens chegam prontas para aplicação e execução imediata. Faz-se a preleção e estamos conversados. Cumpra-se e até a próxima convenção no ano que vem.
Como a maioria dos discursos das convenções não cola, as empresas procuram terceirizar o trabalho, entregando-o, com esperança de sucesso, aos motivadores profissionais, e eles, de verdade, tentam arduamente dar conta do recado. Para isso são pagos regiamente. O pessoal se anima na hora e repete a frase: “Não está falando comigo.” Passa-se o tempo e “tudo volta a ser como dantes no quartel de Abrantes”.
Poucos são os comandantes empresariais que conseguem, em discursos, compartilhar seus sonhos e fazer todos adotarem as ordens da empresa e caminhar entusiasmados na direção indicada. Os gregos, mestres da dialética e da retórica, contavam essa história: “Quando Demóstenes fala, as pessoas dizem: como ele fala bem. Quando Péricles fala, dizem: marchemos para a guerra. ”
Os comandantes tipo Péricles sabem conviver com os seus, escutam-nos, sempre que podem, conversam e compartilham aspirações e sentimentos mútuos. O senso de pertencimento, transmitido pelos líderes, por meio da comunicação, é ainda a melhor e mais valiosa motivação. Na hora dos discursos, o bom líder só estará sendo espontâneo e natural, como sempre foi. Em vez dos áridos números e tabelas ele contará histórias e fornecerá exemplos a serem seguidos. A arte de falar e entusiasmar plateias passa primeiro pela escuta e depois pela emoção.
Sonhos de realização empresarial precisam ser coletivos. Para as metas darem certo todos precisam sonhar juntos. Para isso, serão necessárias conversas constantes e alinhamentos de rotas e não apenas nas épocas das convenções. Até porque a comunicação, aquilo que une todos os interesses pelo bem comum, se processa no tempo, na linha e na sedimentação. Comunicar é trabalho de elaboração constante. Bons chefes sabem disso e conversam com seus colaboradores, fazendo-os incorporar, aos poucos, os sonhos da empresa. O que faz o bom vendedor? Escuta o cliente, entende e atende suas necessidades. Bons líderes são bons ouvidores. Estratégias empresariais, até serem implantadas e levadas à ação com os resultados esperados, não passam de sonhos que, se não forem devidamente compartilhados, não existirão.
O mesmo acontece no futebol: para compartilhar estratégias e táticas e torná-las ações efetivas é necessário que o pessoal em campo converse entre si, repartindo aquilo que pensam e intuem. Técnicos vivem gritando na beira do gramado: “Conversem mais entre si”. Sobre a direção da rota a ser seguida, ele já a discutiu com o grupo nos treinos e vestiário. Time que não conversa e reparte é time fadado a perder o jogo.
Os africanos, sábios há centenas de gerações, têm um bonito ditado: “Raro é o sonho que começa e acaba na mesma noite. A verdade não está num só, mas em muitos sonhos.”
*Eloi Zanetti – eloi@eloizanetti.com.br