Por André Nunes – Em dado momento do documentário “Milton Bituca Nascimento”, dirigido por Flávia Moraes, alguns dos entrevistados nos Estados Unidos – não falantes do português – descrevem sua sensação de ouvir uma canção do mestre Milton Nascimento. Afinal, não é preciso entender a língua para compreender o sentimento que Travessia ou Bailes da Vida, para citar apenas dois clássicos, evocam em pessoas de todo o mundo.
Com estreia para esta quinta-feira 20 de março, o doc “Milton Bituca Nascimento” acompanha a turnê de despedida de uma das maiores lendas vivas da música brasileira. Filmado ao longo de dois anos, o longa registra os últimos shows de “Bituca“, como é carinhosamente conhecido, e captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs. E conta com a narração de ninguém menos que Fernanda Montenegro.
A obra vai além dos palcos, apresentando cenas de bastidores e depoimentos de grandes artistas nacionais e internacionais. Esses relatos celebram a importância de Milton e o impacto universal de sua música, reafirmando seu legado como um dos maiores nomes da música global. Entre emoções e celebrações, o filme é uma despedida inesquecível de um ícone cuja obra transcende fronteiras e gerações.
E que rol de entrevistados: Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Simone, Ivan Lins, Maria Gadu, Criolo, Mano Brown, Djamila Ribeiro… E na passagem pelos EUA, ninguém menos do que Quincy Jones – morto em novembro do ano passado – teceu comentários sobre o mestre Bituca. Não podiam ficar de fora seus companheiros de Clube da Esquina, verdadeiro movimento musical dos anos 1960: Beto Guedes, Márcio e Lô Borges, Wagner Tiso e Toninho Horta.
Mais do que uma merecida e necessária homenagem em vida a este cantor, compositor e multi-instrumentista nascido no Rio de Janeiro, de alma mineira, no alto de seus 82 anos, Milton Bituca Nascimento lega à posteridade um registro sem afetação, mas potente em sua mensagem e simbolismos desta sumidade de nosso cancioneiro. Nesse sentido, a obra de Milton conflui com a de Guimarães Rosa, que dizia que “o sertão é o mundo”. Bituca não é apenas um dos maiores brasileiros de todos os tempos. É do mundo, é Minas Gerais.