segunda-feira, 7 outubro, 2024
HomeMemorialMárcio derramou o “leite quente”

Márcio derramou o “leite quente”

Ivan Justen Santana
Ivan Justen Santana

Mais uma preciosa colaboração do jornalista, professor emérito da UFPR, formador de gerações de jornalistas, paranista e incansável analista do Paraná e sua História, Hélio de Freitas Puglielli:

“Nenhum escritor é um robô capaz de não ter emoções e nem as simpatias e antipatias que, quando a causa é de difícil identificação, chamamos de idiossincrasias.

Newton Sampaio
Newton Sampaio

Já era de esperar, portanto, que o “Dicionário Amoroso de Curitiba” fosse também um dicionário das escolhas e preferências de Márcio Renato dos Santos, a quem a obra foi encomendada pelo “Casarão das Letras”.

Márcio desincumbiu-se da tarefa com destreza e teve êxito ao evitar que sua obra ficasse “enviesada”, sem cair no outro extremo, o que ocorreria se fizesse um texto neutro e descolorido. Com estilo leve e solto, bem humorado, faz equilibradamente o registro literário dos pontos que efetivamente chamam a atenção no “ser” e no “viver” de Curitiba.

É leitura saborosa, ao gosto dos leitores locais e certamente também aos que não tiverem nenhum vínculo com Curitiba.

1. Daria nota “10” ao meu ex-aluno, mas – como curitibano nato e assumido – tenho que protestar contra o seu ponto de vista sobre o sotaque. Se ele não existisse mais, como afirma o Márcio, eu estaria pedindo “leitchi quentchi” e indo a “feschstas” e ao “tiatro”. Nada contra quem fala assim, mas não é assim que eu falo, assim como também não falam centenas de milhares de curitibanos.

2. Outra discordância é puramente literária. Márcio insiste em dizer que, antes de Newton Sampaio, não houve nada de relevante na literatura paranaense. Meu primo Ivan Justen Santana já provou – e bem provado – que se trata de um equívoco. Mas, enfim, ele tem todo o direito de insistir em seu ponto de vista.

Não posso deixar de assinalar, finalmente, uma contradição flagrante entre o verbete em que argumenta que os curitibanos são apenas competitivos, e não autofágicos, e o “Viva a vaia”. Se não fôssemos autofágicos, prestigiaríamos e aplaudiríamos espontaneamente os valores locais, sem precisar que eles fossem reconhecidos lá fora.

Discordâncias à parte, o “Dicionário” está muito bem idealizado e escrito.

Um novo marco na carreira do autor que, em menos de um mês, lançará novo livro, o 2,99.”

Leia Também

Leia Também