Retomando o tema religião e política:
A rigor, acredito que não há grande novidade nesse ‘mercado da fé’, em que pastores colocam-se a serviço de lideranças políticas, cambiando o papel de cabos eleitorais por benesses pessoais ou a favor de suas comunidades religiosas.
Acho mesmo que as lideranças ‘crentes’ tão consideradas nos dias de hoje, apenas aperfeiçoaram um ‘modus operandi’ em que a Igreja Católica, no Brasil, foi ‘mãe e mestra’.
2 – APERFEIÇOANDO A OPERAÇÃO
E ao aperfeiçoar o ‘modus operandi’, adaptaram seus balcões de negócios à realidade dos dias de hoje, pouco a ver com aquela do Brasil Colônia, quando nasceu o regime do Padroado.
E no que consistia o Padroado, que se estendeu até o final da Monarquia, 1889, com a proclamação da República?
O Padroado garantia à Igreja Católica seguros estipêndios (salários, por exemplo) ao clero e toda sorte de benefícios materiais e privilégios à Santa Madre.
3 – “EMPREGADA DO GOVERNO”
A rigor, a Igreja Católica agia como empregada do Império, devendo-lhe, de certa forma, obediência. Pelo menos era isso que o Segundo Império exigiu do episcopado brasileiro, pedindo-lhe, numa das ocasiões, que não se opusesse à Maçonaria. Dois bispos não aceitaram as “ordens” (dom Vital e dom Macedo), foram presos, e nasceu a conhecida ‘Questão Religiosa”.
E essa observação me vem a propósito do livro “Religião e Política”, que acabo de ler. Trata-se, na verdade, de trabalho acadêmico de fôlego, assinado por um doutor em Sociologia, Renato Augusto Carneiro Junior, diretor do Museu Paranaense.
Carneiro fixa-se mais na análise da LEC, a Liga Eleitoral Católica, nascida no Centro Dom Vital, no começo dos 1930, no Rio, com gente de alto coturno, como Tristão de Ataíde, Gustavo Corção, padre Helder Câmara…
Recomendo a leitura do livro (edição do Museu Paranaense, onde pode ser adquirido), especialmente por mostrar, com minúcias como a Igreja Católica era indissociável da política paranaense, pelo envolvimento de seus bispos, seus padres e movimentos leigos.
A análise de Carneiro cobre boa parte dos dias que precederam a eleição de Ney Braga a prefeito de Curitiba, em 1954. Essa situação foi evoluindo nos anos seguintes.
4 – CNBB FICA “NEUTRA”
Hoje a Igreja Católica no Brasil se autoproclama “neutra em matéria eleitoral”.
O secretário geral da CNBB, o bispo Steiner, disse, semana passada em declarações à imprensa que a Igreja mantém-se distante de partidos e não recomenda candidatos. E que muito menos faz do altar um balcão de acertos políticos.
No geral, as dioceses e as paróquias agem assim: nenhuma manifestação direta de apoio a candidatos. Há exceções, como os poucos padres que concorrem a cargos eletivos em alguns estados.
“Vacinada”, a CNBB não dever ter-se recuperado até agora do quanto foi usada por políticos à esquerda – especialmente os petistas vinculados a movimentos como Pastoral da Terra e Comunidades Eclesiais de Base.
5 – OS PRIVILÉGIOS ROMANOS
Ágil como só ela sabe ser, a Igreja Católica no Brasil conseguiu um feito, dando “golpe”, do qual até agora suas igrejas concorrentes não se recuperaram. Foi aquele documento (seria uma concordata, como querem alguns?) entre o governo do Brasil e a Santa Sé assinado no Governo Lula.
Com esse acordo, a Igreja tem garantias especiais. E com as quais sonham, certamente, os ‘irmãos separados’.
(PROSSEGUIRÁ).
Leia também:
Lei das religiões é agrado às igrejas da moda (I)
Lei das religiões é agrado às igrejas da moda (II)