Se muitas das igrejas cristãs no Brasil de hoje viraram “fábricas de votos”, sendo seus membros conduzidos a currais eleitorais por seus pastores, isso não quer dizer a maioria dos púlpitos é necessariamente moeda de troca.
Há igrejas absolutamente sérias, especialmente aquelas definidas por doutrinas seguras e com características históricas. Uma delas, na minha opinião, é a antiga Igreja Evangélica da Confissão Luterana, com sede em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, fortemente identificada como – inicialmente – uma denominação étnica. Nasceu para servir e atender aos alemães e seus descendentes que chegavam no Brasil nas primeiras décadas do século 19.
(Outra, sem dúvida séria, que não permite que o púlpito balcão de negócios é a Adventista do Sétimo Dia que, no entanto, não pode ser simplesmente classificada como evangélica, como entendemos as demais denominações de raízes protestantes)
2 – ADERINDO À LIBERTAÇÃO
É certo que, com o passar dos anos, os luteranos sinodais (como são identificados, para não serem confundidos com os membros da Igreja Luterana do Brasil, de origem norte-americana e fortemente conservadora em doutrina e costumes), acabaram, em boa parte de suas lideranças, aderido à Teologia da Libertação.
Foi essa forte simbiose com a TL, nascida com Gutierrez e Leonardo Boff, no seio da Igreja Católica, que tornou a Sinodal Luterana identificada por “marcas progressistas”.
No Paraná sentiu-se na Assembleia Legislativa o impacto dessa adesão, com a eleição, para um mandato, nos anos 80s, de Gernote Kirinus, pastor que ganhara grande influência por sua defesa dos pequenos agricultores do Oeste e Sudoeste do Paraná.
Mas a primeira liderança evangélica que teve expressão na Assembleia Legislativa foi, no começo dos 1960, o presbiteriano do Brasil Olavo Garcia, de Londrina. Kirinus, hoje retirado da Igreja, foi um dos frutos mais expressivos da TL entre os luteranos.
Os luteranos sinodais não são exceção entre os protestantes históricos (não são pentecostais ou neopentecostais).
Nas históricas predominam membros de classe média. É o caso dos metodistas, dos presbiterianos do Brasil, presbiterianos independentes, dos anglicanos-episcopais.
3 – UM CASO À PARTE
Já as assembleias de Deus permitem vários olhares em seus relacionamentos com o mundo da política. E com os políticos que hoje detêm o poder no Brasil. A Assembleia de Deus, do chamado Ministério Madureira, a segunda maior denominação assembleiana do País, é controlada pelo bispo Wellington. Ele já foi candidato ao Senado.
Essa denominação faz valer seu poder de votos, não está com Dilma, muitas vezes esteve com o PSDB, e, por último, muitos de seus líderes têm-se dito comprometidos com o pastor candidato a Presidente da República.
No Paraná, a Assembleia de Deus do Brasil, cuja sede principal fica na Rua Cândido de Abreu em Curitiba, é uma exceção a ser estudada: formada por camadas pobres da população, tem, no entanto, uma expressiva parte da classe média entre seus membros. E em matéria eleitoral tem dado suporte a políticos consolidados, como os deputados federais Takayama e Francischini. Tem representantes na Câmara de Curitiba e na Assembleia Legislativa.
4 – VOTOS FECHADOS
De todas as lideranças evangélicas/neopentecostais, nenhuma é mais paparicada pelos políticos, no País, que Edir Macedo, o bispo fundador e presidente da Igreja Universal do Reino de Deus. Ele é um ser poderoso que, além de dono da Rede Recorde de Televisão e empreendimentos comerciais e de serviço diversos em todo o Brasil, aparece entre os 100 brasileiros donos das maiores fortunas pessoais, na mais recente lista da revista Forbes. O que é impressionante, se levarmos em conta que Edir Macedo, há 25 anos, com apenas o curso Fundamental completo, era funcionário administrativo de categoria baixa da Loteria Estadual do Rio de Janeiro (Loterj). Tudo mudou quando ele fundou a IURD, que acaba de construir um templo de R$ 600 milhões, em São Paulo.
Edir Macedo e seus milhares de templos no País estão fechados com a presidente Dilma. Bem ao contrário de outras lideranças evangélicas que têm hoje forte expressão e liderança política, como o pastor Malafaia, da Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo, que combate o PT, e está com o candidato pastor Everardo à Presidência: mas já disse que, num segundo turno, ficará com Marina.
A IURD, de Edir Macedo trabalha muito sua massa de fiéis, a coloca, claramente, a serviço dos próprios candidatos da Igreja. No Paraná, são dois: Oliveira Filho (federal) e Praczyk (estadual).
(PROSSEGUIRÁ).