domingo, 6 outubro, 2024
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Lei das religiões é agrado às igrejas da moda (I)

Marina Silva
Marina Silva

São diversos os fatores que têm levado, nos últimos meses, partidos políticos e governos adotarem o assessoramento de chamados ‘especialistas em temas religiosos’.

Essa realidade precedeu o avanço impressionante da candidatura da pentecostal Marina Silva, que não pode ser confundida como neopentecostal, grupo a que pertencem fiéis ligados, por exemplo, à Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo) e Renascer em Cristo (do assim chamado apóstolo Hernandez e da denominada a bispa Sônia Hernandez).

2 – PENTECOSTALISMO

Marina pertence ao pentecostalismo clássico, um dos ramos das Assembleias de Deus, há 100 anos implantada no Brasil a partir de dois missionários suecos que aportaram em Belém do Pará e iniciaram o movimento sediados numa igreja batista (neste caso, não pentecostal).

Anthony Garotinho
Anthony Garotinho

Hoje o crescimento dos chamados evangélicos (primitivamente, eram conhecidos apenas como evangélicos, no Brasil, os grupos protestantes de origem germânica, com suas igrejas étnicas) levou o poder público a encarar uma nova realidade. E tanto quanto ele, os governos, as atividades econômicas também.

Quando começou no Brasil esse despertar para o fenômeno religioso representado pelas igrejas ditas evangélicas – e não pertencendo ao protestantismo histórico, como são os metodistas, batistas, presbiterianos, congregacional, episcopais-anglicanos…?

3 – O DESPERTAR

Com o governador Jaime Canet Jr. (ao centro), Igo Losso (terceiro da esquerda), na época deputado federal, e Ezequias Losso (à direita), deputado estadual
Com o governador Jaime Canet Jr. (ao centro), Igo Losso (terceiro da esquerda), na época deputado federal, e Ezequias Losso (à direita), deputado estadual

Eu identifico os primórdios desse despertar evangélico no início dos anos 1950, com as grandes concentrações de fiéis em espaços cobertos com lona.

Eram os primeiros trabalhos de uma “igreja de missão”, vinda dos Estados Unidos. Aqui ganhou o nome de Cruzada Nacional de Evangelização (que depois se transformaria na Igreja do Evangelho Quadrangular, êmulo da Four Square Gospel, dos Estados Unidos).

Ao mesmo tempo, no final dos 1950, um pedreiro pernambucano, homem simples, “primitivo segundo os valores do mundo”, como o apresentavam seus seguidores, fundou e foi pregando Brasil afora a mensagem da igreja que recém fundara em São Paulo, a Brasil para Cristo.

4 – MANOEL DE MELLO

Pastor Manoel de Mello
Pastor Manoel de Mello

No começo dos 1960 eu assisti, aqui e em Porto Alegre (em viagem profissional ao RS), as pregações de Mello, ao ar livre e no auditório do Colégio Estadual do Paraná. E, por dever de ofício e interesse pelo fenômeno religioso, notei e anotei as primeiras e históricas ‘adesões de igrejas’ – fora as antigas, nascidas com o Brasil, da Igreja Católica – aos senhores da política.

Acompanhei, por exemplo, Manoel de Mello a transferir ‘seu rebanho”, com todos os seus votos, a um dos líderes da cadeia de comunicação Associada (leia-se Chateaubriand), candidato a deputado federal em São Paulo.

Apóstolo Estevan e Sônia Hernandez
Apóstolo Estevan e Sônia Hernandez

Hoje não mais espantam as transferências de votos consumadas entre lideranças pastorais a políticos. Dois exemplos claríssimos: Garotinho, que lidera as pesquisas para voltar ao Governo do Rio de Janeiro, e o deputado federal fluminense Eduardo Cunha, conhecido por bem captar votos em currais religiosos.

No Paraná, uma das primeiras bem sucedidas ligações do voto com igrejas não católicas deu-se com a família Losso (capitaneada por Luiz Losso) em Curitiba. Num tempo, anos 70/80, a família, com forte apoio – não oficial, é certo – dos adventistas, os Losso estavam no legislativo em todos os níveis: vereador em Curitiba, deputado estadual e deputado federal (com Igo Iwandt e também Luiz, em certo momento).

Pois a mim não me espanta que, diante da ‘máquina de votos’ que parece estar encarnada em Marina Silva, o governo federal trate de fazer andar no Congresso a chamada Lei Geral das Religiões, que anda a passos de cágados na Câmara, desde 2009.

(PROSSEGUIRÁ).

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