quinta-feira, 24 abril, 2025
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Igreja avança, mas “sem novidades”, diz especialista

Padre Ricardo Hoepers
Padre Ricardo Hoepers

Todos os grandes jornais – e a maioria dos outros meios de comunicação  do mundo todo – registraram ontem, 14:

“Igreja Católica busca conciliação com gays e divorciados.”

Esse foi o resumo que se fez do texto preliminar do Sínodo da Família, dado a conhecer em Roma.

O tema interessa a boa parte dos brasileiros, pois o país, pelo menos nominalmente, abriga 143 milhões de católicos.

A coluna ouviu, a propósito, o padre Ricardo Hoepers, doutor em Moral pela Universidade Gregoriana (dos Jesuítas), título conquistado este ano, e que hoje é um dos diretores do Studium Theologicum de Curitiba. Eis as resposta de Hoepers, um expert em Moral do ponto de vista católico:

Sede do Studium Theologicum, em Curitiba.
Sede do Studium Theologicum, em Curitiba.

Coluna – Quais os frutos iniciais desse sínodo?

Hoepers – Os Bispos sinodais apresentaram seu primeiro relatório, fruto de suas reflexões e dos trabalhos realizados até agora no Sínodo. Os resultados foram inicialmente divididos em três partes:

1) A necessidade da escuta para se entender os reais problemas e desafios da família;

2) O olhar para o Cristo para resgatar o frescor da sua mensagem e da sua revelação;

3) O encontro com Jesus para discernir os caminhos para uma verdadeira renovação da Igreja e da sociedade em favor da família.

Em relação ao primeiro ponto me parece que os Bispos Sinodais se confrontaram com os dilemas mais acirrados em relação à família que desafiam a Igreja: o problema do individualismo, da solidão, questões culturais como a poligamia e matrimônios combinados e mistos, crianças que nascem fora do matrimônio, violência familiar, imaturidade afetiva, as questões demográficas e outras.

Coluna – A Igreja está ouvindo os reclamos de seus fiéis?

Hoepers – Sim: o fato de que há um interesse em ouvir as demandas do mundo em relação à família é um passo significativo de abertura para se trabalhar com temas emergentes.

No que se refere ao segundo ponto é um resgate aos fundamentos bíblicos e teológicos que dão a base para uma leitura crítica à realidade.

Interessante notar o destaque dado às situações irregulares chamando para a necessidade de um discernimento espiritual que a Igreja deve fazer no caso dos matrimônios civis e nos divorciados recasados: «compete a Igreja reconhecer as sementes do Verbo dispersas para além dos confins visíveis e sacramentais» (n.20).

Coluna – Em termos concretos, exemplifique os roteiros propostos…

Hoepers – Veja: para complementar ainda mais essa acolhida, no terceiro ponto, os padres sinodais propõem a necessidade de sanar as famílias feridas com a urgência de novos caminhos pastorais que partam da efetiva realidade das famílias fragilizadas e sofridas que têm sua liberdade limitada.

Apontam para uma melhor agilidade nos processos de nulidade matrimonial que deverá ser viabilizado pelos bispos diocesanos. Em relação ao acesso a Eucaristia s abre uma porta clamando para um acompanhamento desses casais de modo que possam ser reconhecidos na lei de gradualidade e se tenha a compreensão da diferença entre o estado de pecado, estado de graça e circunstâncias atenuantes.

2 – ANULAÇÃO DE CASAMENTOS E GAYS

E em relação aos homossexuais se reconhecem seus dons na comunidade eclesial e a Igreja se sente interpelada em discutir sobre possíveis caminhos de crescimento afetivo e maturidade humana para com essas pessoas. Porém se mantém claro que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimônio entre um homem e uma mulher. (n.51).

3 – HÁ NOVIDADES TEOLÓGICAS À CAMINHO?

Não, não temos nenhuma novidade teológica ou pastoral nas reflexões realizadas até o momento.

Temos, sim, um Sínodo que se move para um profundo diálogo com a realidade da família, disposto a escutar, refletir e propor ações que se aproximem mais da realidade das pessoas que sofrem os dilemas espirituais, morais e sociais relativos a família. Penso que o avanço mais interessante é essa disposição em enfrentar a questão com mais consciência e menos discriminação.

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